Crónica 5 - A melhor etapa até agora
A maior odisseia que eu tenho para contar no dia de hoje é esta: há mais de uma hora que ando com o nosso guia marroquino para tentar ter acesso à internet porque está uma tempestade de areia no acampamento, o que dificulta as comunicações. Primeiro, o guia ainda perguntou onde se podia encontrar internet e disseram-nos que no cimo de um monte seria possível. Lá fomos então, mas a cobertura não era suficiente, por isso fizemos cerca de 40 km"s por uma pista até chegar aqui, a uma pequena aldeia, de onde escrevo. Estamos frente a um café onde finalmente temos cobertura e onde curiosamente estão 50 ou 60 marroquinos a ver o jogo do Barcelona (risos).
Relativamente à especial de hoje: o resultado não foi o mais positivo, mas a verdade é que sabíamos que o dia seria difícil. Estivemos no Erg Chegaga, fizemos cerca de 30 km"s de dunas e as coisas não nos saíram propriamente mal. Ficámos parados na primeira duna, mas dai para a frente conseguimos superar os obstáculos.
O Erg Chegaga tem as suas especificidades e foi uma travessia dura. Estivemos a treinar em Merzouga mas pouco tempo houve para tal e é sempre diferente fazê-lo em competição.
Ainda percorremos alguns quilómetros no leito de um rio seco, com muita areia. Cruzámos pistas muito diferentes e paisagens absolutamente fantásticas. Havia também muito vento. Quase não conseguíamos ver a pista na segunda metade da etapa devido à tempestade de areia. Muito pó e areia no ar.
De qualquer forma, no dia de hoje a aposta era não deitar nada a perder, poupar ao máximo o carro e, nesse aspeto, creio que o objetivo foi cumprido, foi mais uma experiência acumulada. Cometemos alguns erros, mas aprendemos com isso e se amanhã tivesse de repetir a especial de hoje com certeza existiriam algumas situações que não se iriam repetir.
Estou satisfeito pelo que vivi hoje aqui. Está muito próximo do que eu idealizava numa etapa deste tipo de provas. A especial de hoje reuniu todos os ingredientes: pistas muito interessantes, muita navegação, percurso muito exigente e paisagens a perder de vista. Por isso, apesar de o resultado não ter sido o melhor, para mim foi a melhor etapa. O Mokka esteve irrepreensível ao longo de toda a especial, porventura ainda só não tem é um piloto à altura, com experiência neste tipo de provas que são autênticas maratonas africanas (risos).
Mais experiência, mais quilómetros, mais aprendizagem. Pode ser que esta experiência nos ajude nas próximas etapas.
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Nuno Matos, piloto de Todo-o-Terreno, escreve diariamente no DN online uma crónica, até ao dia 23 de abril, no âmbito da prova Morocco Desert Challenge.