Croácia celebra o Dia de Ação de Graças da Vitória e da Pátria e o Dia dos Defensores
Há muitas razões pelas quais a operação militar e policial Tempestade ocupa um lugar especial na história recente da Croácia, não só por ser uma operação militar bem-sucedida que cumpriu as condições-chave prévias para a unificação do território croata, mas também por ser a operação militar que mudou a relação de poderes e infligiu o golpe decisivo às políticas de guerra e ocupação do regime de Slobodan Miloševic. Ao mesmo tempo, nem um mês após o genocídio em Srebrenica, a Tempestade contribuiu para a criação das condições estratégicas para pôr fim à guerra na Bósnia e Herzegovina. Rejeitamos as acusações lançadas nesta tribuna ontem pelo major-general na reserva o Dr. Carlos Branco, que sem compreensão profunda condenou a nossa celebração desta importante operação militar e policial e o seu significado para a Croácia.
Como já devem saber, depois do reconhecimento internacional da Croácia e a sua entrada nas Nações Unidas em maio de 1992, quase uma terça parte do território croata ficava sob ocupação. Não tiveram êxito as tentativas croatas, com a mediação da comunidade internacional, de encontrar uma solução com os representantes dos sérvios sublevados da Croácia. Ao recusar reconhecer a independência da Croácia, a parte sérvia rejeitou também a proposta da comunidade internacional para uma reintegração pacífica dos territórios ocupados no sistema jurídico e constitucional croata, garantindo o nível de autonomia que esses territórios não tinham tido na ex-Jugoslávia.
A Tempestade foi levada a cabo durante quatro dias no início de agosto de 1995, e foi graças ao sucesso dessa operação que quase uma quinta parte do território croata foi finalmente libertada. Foi naquele território que durante os anos precedentes foram assassinados mais de 13 mil cidadãos croatas, vítimas da ocupação sérvia, feridos mais de 30 mil e exilados mais de 250 mil. Aquela vitória militar condicionou ao mesmo tempo a reintegração pacífica da região croata de Podunavlje, com a qual foi unificado em 1998 todo o território croata.
Como já dissemos, a Tempestade aconteceu menos de um mês após o genocídio em Srebrenica, na vizinha Bósnia e Herzegovina, na primeira metade do mês de julho do 1995, perpetrado pelas unidades militares policiais e paramilitares unidas dos sérvios da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. É bem conhecida a Declaração de Split, assinada no dia 22 de julho de 1995 pelo presidente da Croácia Franjo Tudman e o presidente da Bósnia e Herzegovina Alija Izetbegovic. Aquela declaração previu uma cooperação entre as forças militares croatas e bósnias no território da Bósnia e Herzegovina para combater a agressão sérvia. No mês de agosto de 1995, o exército croata rompeu pela primeira vez, com a cooperação das unidades do Conselho da Defesa Croata e o Exército da Bósnia e Herzegovina, o cerco sérvio da zona da proteção das Nações Unidas na cidade bósnia de Bihac, para depois contribuir para a libertação duma grande parte da Bósnia e Herzegovina. Infelizmente, este aspeto importante da Tempestade não é tão bem conhecido pelo público em geral. Essa importante e estratégica cooperação militar entre a Croácia e a Bósnia e Herzegovina mudou a relação de poderes e levou o presidente sérvio Slobodan Miloševic a aceitar seriamente pela primeira vez as negociações da paz. O Acordo de Paz de Dayton, assinado uns meses depois, em novembro de 1995, pôs fim à guerra na Bósnia e Herzegovina e acabou a reintegração pacífica das regiões croatas da Eslavónia Oriental, da Baranja e do Srijem Ocidental. É por tudo isto que a Tempestade pode sem nenhuma dúvida ser considerada o momento decisivo que abriu o caminho à paz e à estabilidade na Europa do Sudeste depois de tantos anos da guerra, de destruição e de horrores causados pela política destrutiva da Grande Sérvia promovida por Slobodan Miloševic. Infelizmente, as elites da Sérvia ainda não enfrentaram as consequências da política do regime criminoso de Slobodan Miloševic. Então, a derrota militar sérvia definitiva causada pela Tempestade é sem dúvida também a derrota pessoal dos inúmeros e influentes políticos sérvios, e é por isso que não surpreende a sua interpretação negativa, pública e constante, daquela excelente operação militar croata.
Neste contexto gostávamos de mencionar também o seguinte: durante a Tempestade as emissoras de rádio e televisão da Croácia emitiam os chamamentos do governo da Croácia aos sérvios que moravam no território ocupado para ficarem nas suas casas e aguardarem tranquilamente a recuperação do sistema jurídico e constitucional da República da Croácia. A maior parte da população sérvia local seguiu a liderança sérvia da cidade ocupada de Knin e retirou-se com o exército sérvio. Infelizmente, crimes isolados contra a população sérvia foram perpetrados naquele território depois da Tempestade, apesar da política claramente expressa da cúpula do Estado croata daquele tempo que convidava à convivência e ao não abandono. Os mais altos representantes políticos croatas repetidas vezes condenaram severamente aqueles crimes. Além disso, chamaram a atenção para a importância de reconhecer que durante a Guerra da Independência Croata, que tinha carácter defensivo, infelizmente foram cometidos crimes contra os civis sérvios que não deveriam ter acontecido durante a defesa do país, e também para a importância da obrigação civilizadora da Croácia, como país vencedor numa guerra que lhe foi imposta, para que as vítimas fossem recompensadas.
A Croácia tem infelizmente uma experiência histórica recente de ter enfrentado as múltiplas, duradouras e difíceis consequências da guerra. Nesse sentido, a Croácia acha que o apoio claro, forte e continuado à perspetiva europeia dos países do sudeste da Europa é um investimento especialmente importante para a estabilidade, a segurança e o desenvolvimento económico do sudeste europeu. É por isso que o apoio aos esforços reformistas dos países dos Balcãs Ocidentais no seu caminho europeu foi um dos enfoques temáticos da presidência croata do Conselho da UE no ano passado, e continua a sê-lo. Também uma especial atenção é dada à importância do progresso reformista contínuo desses países e à sua vontade política para cumprirem as condições necessárias desse progresso, incluindo a dedicação à política de boa vizinhança.
Embaixadora da Croácia em Portugal