Cristas. "É à classe média que esquerda radical vai buscar o dinheiro"

No encerramento da Escola de Quadros do CDS a líder do partido anunciou a "marca de água" do partido: "mudança sensata"
Publicado a
Atualizado a

Está definida a estratégia da oposição do CDS para a próxima época política. Não vai deixar passar erros do governo,ampliando até à exaustão as contradições da "esquerda radical" e os "silêncios" do PCP e do BE, vai estar muito atento à classe média e aos "ataques" aos seus bolsos e, ao contrário do PSD, vai propor medidas em áreas que considera cruciais: estímulo ao investimento, educação, saúde e assuntos sociais. Assunção Cristas, esta manhã de domingo, no encerramento da Escola de Quadros dos jovens centristas, entrou na sala de braço dado com o presidente da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos - um quadro que vai dar que falar na política - e os aplausos não foram menos ruidosos que no tempo de Paulo Portas.

PCP e BE foram alvos imediatos da presidente do partido: "Quem votou nos partidos da esquerda a achar que eles iam estar ao lado das populações contra o degradar dos serviços públicos, enganou-se. A esquerda não vê, não protesta, não sabe o que se está a passar nas escolas e nos hospitais sem dinheiro porque tiveram de pagar as 35 horas! Quem votou nos partidos de esquerda a achar que eles iam fiscalizar o governo, enganou-se. Ministros que ameaçam com bofetadas ou Secretários de
Estado que vão ver jogos de futebol em viagens pagas por empresas privadas são agora meros pormenores. Os campeões dos pedidos de demissão estão agora caladinhos, não vá alguém interromper a festança da esquerda!", assinalou, arrancando trovões de palmas.

Provocadora, lembrou que o atual governo está "dependente de partidos que glorificam modelos que nunca trouxeram riqueza" e que "desconfiam do investimento privado, das empresas, das pessoas, da sua iniciativa, da sua capacidade". E desafiou, retoricamente, "alguém me dá um exemplo - UM SÓ! - onde tenha tido sucesso o modelo económico coletivista defendido pelo PCP e pelo BE?"
Assunção Cristas analisou cirurgicamente algumas medidas tomadas pelo governo para "satisfazer as clientelas das esquerdas unidas" e que resultaram, no seu entender, numa reversão da qualidade dos serviços públicos prestados e no recuo do crescimento da economia."Reverteram-se contratos nos transportes. Resultado? Sindicatos satisfeitos, utentes prejudicados e quebra de confiança dos investidores traduzida numa brutal redução do investimento. Pôs-se fim aos exames em fim de ciclo e cortou-se turmas nas escolas com melhores resultados. Resultado? CGTP satisfeita, alunos e famílias
prejudicados, redução da qualidade na educação. Aumentou-se a carga fiscal sobre os portugueses, aumentaram-se impostos e procuram-se pretextos uns atrás dos outros para tributar património, como o IMI ou o imposto sobre os combustíveis. Agora até querem cortar parcialmente a isenção de Imposto Único de Circulação para pessoas com deficiência acima dos 60%! Procedeu-se à imposição imediata das 35 horas criando desigualdades não só entre trabalhadores dos setores público e privado, como também dentro do próprio setor público. Resultado? Hospitais e escolas sem dinheiro para cumprir a sua função porque têm de pagar as 35 horas, degradação dos serviços nas
escolas e hospitais, dívidas a aumentar. Polícias que não são contratados e juízes que dizem nos jornais que não há condições de recursos humanos para reabrir tribunais. Tudo isto para arranjar dinheiro para as clientelas das esquerdas unidas: tudo serve para os sindicatos ficarem contentes. Mas quem é que governa afinal? O governo ou os sindicatos?".
E "têm o descaramento de dizer que isto só afeta os mais ricos!", exclamou. "Isso é um logro!" avisou. "No que depender da esquerda radical, a classe média é vista como rica! Tem carro? É rico! Tem casa própria, é rico! É senhorio? É rico! A sua casa tem boa luz solar? É rico. A classe média que não se iluda: quando a esquerda unida vier dizer que só quer tributar os ricos, é ao bolso da classe média que vai buscar o dinheiro!".

Estamos a precisar de investimento

Mantendo a estratégia de ser uma "oposição construtiva" que o partido já tinha adotado na discussão do Orçamento de Estado de 2016, Cristas avançou já com uma proposta para estimular o investimento no país, que tem vindo a descer. "Só há uma forma eficaz de elevar salários e melhorar as condições de emprego: trazer mais empresas para Portugal e dar confiança para as que já cá estão invistam mais. Estamos a precisar de investimento para ter a nossa economia a funcionar e não vamos lá com a política das esquerdas. Por isso vamos propor no Parlamento um Crédito Fiscal Reforçado para o Investimento, que permita reduzir a taxa efetiva de IRC para cerca de 5,5% para as empresas que fizerem investimento produtivo. Trata-se de um mecanismo reforçado face ao que foi adotado no segundo semestre de 2013 e que desempenhou um papel chave para a inverter a queda do investimento. Proporemos também na próxima sessão legislativa benefícios fiscais para quem invista em start-ups e empresas em fase de arranque, ou em empresas que estejam a lançar novos projetos", sublinhou.
A líder do partido apresentou alguns números sobre a execução orçamental que revelam que "o país inteiro, a nossa economia, está a ficar sem dinheiro e sem recursos para pagar a agenda da esquerda
unida". Para "suportar o aumento com os salários da função pública (307,4 milhões de euros), aumentaram-se os impostos (foram arrecadados quase mais 500 milhões, 2,3% acima do ano passado), e ainda assim não sobra dinheiro para o investimento público (-71,1 mihões) e não há dinheiro para a ação social (-23,7 milhões)". Falou para os funcionários públicos "olhos nos olhos" para lhes dizer que "uma reposição imediata e total de salários só seria possível com a economia a crescer de forma sustentável".
A Educação é um dossiê prioritário para o CDS - foi pela primeira vez debatida na Escola de Quadros com a participação na ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues - e Assunção Cristas trouxe também propostas. "É uma área em que não aceitamos que não seja possível trabalhar para termos consensos e entendimentos", assinalou. "Proporemos, por exemplo, a reorganização dos ciclos de ensino em pré-escolar (até aos 5 anos), primário (até aos 12), secundário (até aos
18) e superior. Aproveitando todos os recursos instalados também nos setores social e privado, proporemos também que o Estado garanta que todas as crianças possam frequentar o último ano do pré-escolar, de maneira a que os 5 anos se transformem num ano essencial na formação das crianças e se acabe com a desvantagem inicial das crianças de famílias mais carenciadas, que muitas vezes chegam ao primeiro ano sem preparação prévia".
A concluir, Cristas explicou quais os princípios que regem o CDS neste momento. "No CDS acreditamos que não precisamos de pôr tudo em causa para aliviar a austeridade, não precisamos de deixar esvair a confiança para repor rendimentos, não precisamos de afugentar investidores com uma governação que não gera confiança. Seremos, somos, a alternativa sensata para Portugal, e é isso que nos distingue desde Amaro da Costa! Não esperem de nós radicalismos, não esperem que ponhamos tudo em causa, não esperem que não evoluamos, não esperem que não aceitemos a mudança. Digo-vos, a mudança sensata é a marca de água deste CDS!"

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt