O mercado imobiliário passou por uma distorção e ficou "irreconhecível", num país onde o salário mínimo mensal é de 760 euros e onde 50% das pessoas ganham menos de 1000 euros por mês. Os nómadas digitais, os vistos gold e os Airbnbs são dos problemas que levaram ao estado atual do país..Quem o diz é o jornal britânico The Guardian, num artigo em que se ataca o Governo de António Costa pelas tentativas de atrair o investimento estrangeiro mas com isso distorcer o mercado imobiliário português. Esta segunda-feira, este é um dos 10 artigos mais lidos do jornal britânico..Segundo o The Guardian, a ONU alertou há seis anos que a "turistificação desenfreada" prejudicaria o direito à habitação dos portugueses mais vulneráveis e previu que a degradação da habitação e das condições de vida provocaria o surgimento de "novos pobres".."A situação é uma loucura", afirmou Agustín Cocola-Gant, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, descrevendo o impacto da disparidade entre salários como transversal. "Isso afeta a todos agora - não apenas a população vulnerável"..Já a ativista e investigadora Rita Silva afirma no artigo que a crise está a servir apenas para aumentar as desigualdades existentes. "Os médicos não estão a vir para as grandes cidades, onde são muito necessários, porque não conseguem pagar o alojamento", disse.."O mercado descontextualizou-se na medida em que já não está virado para quem vive e trabalha em Portugal. É um mercado que, por meio das políticas do governo, está voltado para o investimento estrangeiro.".Os dois investigadores afirmam ao jornal inglês que a pressa de tirar Portugal da crise financeira e colocar o país no mapa de investimentos globais levou diretamente à situação atual..Os nómadas digitais são parte do problema. Estes são estrangeiros que trabalham remotamente e conseguem obter vistos em Portugal, se cumprirem os requisitos, incluindo ganhos mensais de mais de 3.040 euros. Segundo a Nomad List, neste momento existem cerca de 15.200 nómadas digitais em Lisboa.."Eles são uma população privilegiada que se aproveita dessa desigualdade global e basicamente vêm aqui para gentrificar e pressionar ainda mais o mercado imobiliário", disse Cocola-Gant.