Sem tempo a perder, Jair Bolsonaro começa na terça-feira uma nova era no Brasil com economia, política e insegurança no topo da agenda de prioridades. A primeira porque, dada a maior recessão da história recente do país, é a exigência da maioria dos brasileiros, a segunda porque, dado o novo mapa político do Congresso Nacional, se revela uma incógnita, e a terceira porque, dadas as expectativas criadas pelo presidente eleito, é onde ele está obrigado a mostrar serviço..A "reforma da previdência", três palavras que marcaram mais de metade do governo do presidente cessante Michel Temer, voltará de novo ao noticiário político. "Com toda a certeza começará a ser votada no primeiro semestre, se nós continuarmos sem fazer a reforma, daqui a pouco estaremos como a Grécia, o que mais interessa é estabelecer a idade mínima", afirmou Bolsonaro.."Passei os últimos anos a dizer 'aprovem a reforma da previdência', 'aprovem a reforma da previdência', logo, agora que estou no governo, reafirmo 'aprovem a reforma da previdência', mas uma nova previdência, com regime de capitalização", acrescentou noutra ocasião o superministro da economia Paulo Guedes..Ainda na economia, o país que Bolsonaro encontrará vem de um período sob Dilma Rousseff de baixo crescimento, primeiro, e de recessão, depois. Com Temer, houve leve recuperação mas em paralelo crescimento do número de desempregados (são cerca de 13 milhões), aumento da pobreza (26,5% da população) e ampliação do fosso entre ricos e pobres (os primeiros aumentaram em 6% os seus rendimentos, os segundos sentiram retração de 3,5%)..Mas, como disse à edição brasileira da BBC News o economista e pesquisador Manuel Thedim, "a economia não consegue em hipótese alguma divorciar-se da política, pelo que é preciso saber se o presidente eleito vai de facto abraçar e fortalecer a segurança jurídica do país"..Quase nada do que Bolsonaro e o seu governo projetarem sobreviverá, portanto, a uma relação conflituosa com o Congresso Nacional, onde, apesar do crescimento extraordinário da bancada do partido do presidente, o PSL, apenas três das 15 maiores forças parlamentares se dispõem a integrar, oficialmente, a base de apoio ao governo. A forma como o executivo foi sendo constituído, com menos indicações partidárias do que era costume, pode levar a uma relação instável com o poder legislativo..Instabilidade atinge aliados.Uma instabilidade que deve atingir até os próprios aliados. As discussões tornadas públicas entre dois dos deputados mais mediáticos do PSL, Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, a respeito da liderança parlamentar do partido indiciam tumultos. Mesmo no governo, que reúne de militares a evangélicos, passando por políticos profissionais e indicados por Olavo de Carvalho, o controverso guru de Bolsonaro, o presidente terá de ser um domador de feras para levar coesão à heterogeneidade..O escândalo do assessor de Flávio Bolsonaro, apanhado por órgão de controlo financeiro a fazer movimentações suspeitas de quantias elevadas, incluindo para a conta da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, adensa a instabilidade..Além de outras preocupações dos brasileiros, como transporte, educação e saúde, incluindo a do próprio Bolsonaro, sujeito a cirurgia já em janeiro em decorrência do ataque à facada na campanha, será a segurança o terceiro pilar do primeiro ano de gestão do presidente eleito. Como Guedes, que terá superpoderes na economia, o ex-juiz Sergio Moro comandará um superministério da Justiça com o objetivo de lutar contra o crime, mais ou menos organizado, e a corrupção, a sua expertise..Com um recorde de assassinatos no país em 2017 - 64 mil - e um crescimento de 20% em 20 anos no índice de mortes violentas por 100 mil habitantes, Bolsonaro (e Moro) terá como principais obstáculos articular polícias civil, militar e federal, as primeiras sob gestão estadual e a segunda controlada em Brasília. "O grande desafio é melhorar o serviço, melhorar condições, integrar, articulando, criando padrões e protocolos", disse o sociólogo Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao jornal Folha de S. Paulo..Além desse, o governo ainda vai deparar-se com falta de recursos, planos inócuos de combate à violência e escassez de dados e serviços de inteligência. E deve ser capaz de flexibilizar o estatuto de desarmamento, uma das suas bandeiras de campanha..São Paulo