Cavaco Silva foi o Presidente eleito em democracia que menos recorreu ao Conselho de Estado e nem sequer o fez durante a última crise política. Agora, em fase de pré-campanha, há candidatos presidenciais - como Marcelo Rebelo de Sousa e Marisa Matias - que defendem a credibilização do órgão..Marcelo Rebelo de Sousa defendeu na segunda-feira à noite, durante uma intervenção no Círculo Eça de Queirós, que considera essencial dar mais importância ao Conselho de Estado. .O candidato admitiu mesmo que, se for eleito, dará "maior expressão" àquele órgão consultivo, aproveitando-o mais. Sem fazer qualquer reparo à relação que Cavaco Silva teve com os seus conselheiros, Marcelo Rebelo de Sousa deu a entender que, em caso de eleição, o número de reuniões será substancialmente maior..Também Marisa Matias, candidata presidencial do Bloco de Esquerda (numa entrevista que será publicada no DN sábado) reconhece grande importância a este órgão consultivo, admitindo mesmo uma reconfiguração, adaptando-o à realidade do Parlamento e do país. "O Conselho de Estado deve representar o Estado. Penso que quanto mais amplo for melhor representará a sociedade. Ouvir vozes diferentes é bom. Mas não passa apenas pelas questões partidárias, passa por setores da sociedade fundamentais de ouvir, a democracia não se resume à intervenção dos partidos". Mas o mais importante, na opinião de Marisa Matias, é que o Conselho de Estado seja mais representativo da "sociedade civil"..Troika na base de reuniões.Dos presidentes eleitos em democracia, Cavaco Silva é o que menos ouve o Conselho de Estado. Apenas o fez 12 vezes, enquanto Jorge Sampaio o utilizou 22 vezes e Mário Soares em 17, no espaço de dez anos, quase o tempo que o atual Presidente leva em Belém..Ramalho Eanes chamou, efetivamente, menos vezes (apenas 11) do que Cavaco, mas no espaço de dois anos..A situação económica do país, nomeadamente o pedido de resgate à troika, levou Cavaco a chamar o Conselho de Estado duas vezes em 2011 (fevereiro e outubro). Em 2015, apenas o fez uma vez devido à demissão do presidente do governo regional e à necessidade de convocar eleições regionais. Em 2014, também houve apenas uma reunião para discutir o pós-troika. O mesmo tinha acontecido em 2013: uma só reunião, o mesmo tema..No início do mandato, os conselhos de Estado foram centrados no envio de forças militares e militarizadas portuguesas em operações de paz, na Bósnia e Herzegovina, no Kosovo, no Afeganistão, Líbano e em Timor-Leste..Sampaio demitiu Santana.Olhando aos conselhos de Estado convocados pelos dois presidentes socialistas, tiveram por base questões relacionadas com Macau e a independência de Timor, a Guerra do Golfo e o estatuto político-administrativo dos Açores..No caso de Sampaio, o Conselho de Estado mais marcante foi o que resultou na aplicação da "bomba atómica" da dissolução da Assembleia da República e que levou à queda do governo de coligação PSD-CDS liderado por Pedro Santana Lopes..Eanes reuniu 11 vezes em dois anos.Foi o que menos reuniu, mas com uma periodicidade menor. Foi durante a Presidência de Ramalho Eanes que o Conselho de Estado foi criado, na sequência da revisão constitucional de 1983. Após a criação do mesmo em apenas dois anos, Ramalho Eanes reuniu 11 vezes. Tinha sido o próprio a assinar o regimento do Conselho de Estado, após ter sido aprovado a 7 de novembro de 1984. Do mandato de Ramalho Eanes destacam-se reuniões sobre Macau, Timor e, claro, o regimento do próprio Conselho do Estado.