CR7 a um golo do trono. Qual a teoria que vale?
Até há poucos dias sabiam da existência de Josef Bican. E foi Cristiano Ronaldo que o colocou na agenda mundial. O português ultrapassou Pelé na lista dos melhores marcadores de sempre do futebol (759 golos), e quando todos esperavam pela coroação surgiu um desconhecido austríaco a atrapalhar a contabilidade. E por mais contas que se façam nunca batem certo. A única certeza é que se CR7 marcar ao Inter, no domingo, chega aos 760 da carreira, número que para muitos é o novo recorde e o torna o melhor marcador de sempre do futebol mundial.
Bican fez frente a Hitler, foi obrigado a deixar de jogar e a sobreviver como motorista de autocarro e faz tudo num jardim zoológico até a Revolução de Veludo (1989) o libertar da sombra para ganhar um lugar na história do futebol, mesmo que as contas dos golos que marcou não batam certo. Afinal quem se preocupava em contabilizar golos nas décadas de 1930, 1940 ou 1950?
Quanto aos números de Cristiano Ronaldo não há dúvidas. Como sénior - e tirando os seis golos nas seleções sub-21 e olímpica -, o português marcou até agora 759: cinco pelo Sporting, 118 pelo Manchester United, 450 pelo Real Madrid, 84 pela Juventus e 102 por Portugal. Já quanto aos números dos adversários a história é outra. Segundo a organização que regista as estatísticas do futebol, a Soccer Statistics Foundation (RSSSF), Bican é o maior goleador de todos os tempos no futebol, com 805 golos, seguido de Romário, com 772, e de Pelé, com 767. Mas esta é apenas uma das teorias...
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Ídolo do Slavia de Praga, Bican, que morreu em 2001, jogou em cinco clubes entre 1931 a 1955. Tinha 42 anos quando deixou os relvados com 805 golos, segundo a RSSSF, que admite que alguns foram na II divisão checa. Segundo os registos da altura, 27 foram marcados pela equipa de reservas do Rapid Viena e há mais alguns em jogos não oficiais. Por isso, feitas as contas, segundo a BBC, o austríaco de coração checo tem na realidade 759 golos - os mesmos de CR7 nesta altura.
Perseguido pelo regime nazi, o jogador nascido em Viena refugiou-se em Praga, onde viveu os melhores tempos no futebol até a capital da antiga Checoslováquia ser também tomada pelas forças de Hitler. Foi impedido de jogar no Slavia depois de se recusar a filiar no Partido Comunista, acusado de burguês e obrigado a ir para o modesto Banik Ostrava. E depois para o Hradec Kralove, onde marcou muitos golos oficiais e outros nem tanto, que ajudaram a construir a lenda que terá chegado aos 5000.
Em 1969, quando Pelé estava prestes a fazer o milésimo (aqui também existe grande controvérsia), perguntaram a Bican por que não divulgava a lista com os seus 5000: "Acha que alguém acreditaria se dissesse que fiz cinco vezes mais golos do que Pelé?"
E quantos golos tem afinal tem Pelé? E Romário? Ambos afirmam ter marcado mais de mil, mas um conta os golos em jogos-treino e seleções alternativas e o outro contabiliza os marcados desde criança.
Por isso, mais uma vez é preciso pegar na borracha e fazer as contas de novo. Tirando os marcados em encontros particulares, jogos-treino, pela seleção paulista e encontros não oficiais (incluindo um por uma equipe militar em 1959), Pelé, segundo a FIFA, contabiliza 757 golos, entre 1956 e 1977, por três clubes (Santos, Brasil e New York Cosmos). Já segundo a RSSSF, o rei tem 767 golos oficiais.
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Há dias, depois de todo o mundo noticiar que CR7 tinha ultrapassado o recorde de Pelé ao marcar o golo 758, a biografia do brasileiro no Instagram foi mudada com a seguinte mensagem: "Maior artilheiro de todos os tempos (1283)." O recado para Ronaldo criou polémica tal, que o rei teve de explicar: "Fui acusado de ter mudado a bio do meu Instagram, para ofuscar essas grandes estrelas que estão a quebrar os meus recordes. O texto da bio sempre foi o mesmo, desde que entrei na plataforma. Nada disso deveria distrair-nos das suas conquistas incríveis."
Quanto a Romário, comemorou o milésimo golo em 2007, mas na contabilidade incluiu os marcados como criança e juvenil. Tirando esses fica (aparentemente) com 745. Os números divergem nas passagens por América do Sul, Europa, Ásia e Austrália - segundo a RSSSF tem 756.
Por tudo isto é difícil dizer se Ronaldo vai ou não bater o recorde. Para uns sim, para outros não. Mas há um dado indesmentível: além de os golos do português serem fáceis de contabilizar numa era moderna onde a estatística e as novas tecnologias dão uma ajuda, o jogador da Juventus conseguiu lá chegar em menos tempo e num futebol moderno mais exigente.
Com mais ou menos golos, mais cedo ou mais tarde CR7 chegará ao topo dos goleadores. A dias de fazer 36 anos (5 de fevereiro) persegue ainda outro recorde: ser o melhor marcador de sempre por seleções (tem 102 e está a sete de Ali Daei). Uma coisa é certa. Se marcar ao Inter e chegar aos 760, para muitos será já o melhor da história. Dependendo da teoria...
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