Ir para fora cá dentro, velhinho slogan do Turismo de Portugal, será, dizem os especialistas e esperam as unidades turísticas nacionais, a opção da maioria dos portugueses para as férias deste ano estranho em que um vírus é quem mais ordena na forma como organizamos grande parte das nossas atividades, do lazer ao trabalho, passando pelas rotineiras tarefas do quotidiano..Nesse caso, a questão de se é mais seguro utilizar o carro ou o avião para chegar ao destino não se coloca de uma forma tão premente num país pequeno como o nosso, apesar de poder ser uma dúvida para quem se desloca da região norte para o Algarve (sempre são mais de 500 quilómetros)..Ricardo Santos, editor da revista Volta ao Mundo, e especialista em viagens confirma a tendência. "Claramente, a proximidade vai ter um papel decisivo, seja pelas diferentes reaberturas de fronteiras no mundo, seja pela indefinição quanto ao vírus. A aposta de cada país afetado será pelo turismo interno. Portugal não é diferente e isso já se vê no número de portugueses que vão fazer férias cá dentro este ano. O automóvel será, portanto, o meio mais utilizado para chegar ao destino. Mas o aumento da procura por autocaravanas e veículos similares também já se verifica"..Se a escolha do avião é mais rara para distâncias curtas, com ou sem pandemia, o mesmo não se poderá dizer da opção de ir de carro para fora do país, numa situação pandémica em que viajar de avião pode constituir um risco maior de contágio. .É então que a dúvida pode surgir. Mas não há uma resposta definitiva a esta questão, como a tantas outras relacionadas como o novo coronavírus. Há vários fatores a ter em consideração, prós e contras a pesar..Para o pneumologista Filipe Froes, tudo depende "da duração da viagem, do tipo de carro, do número de ocupantes (e se são conviventes ou estranhos) e das paragens que o percurso implica"..Numa viagem de carro pela Europa, por exemplo, muitas paragens terão que ser feitas, em bombas de gasolina, cafés, restaurantes e alojamentos, o que, se não forem adotadas todas as regras de segurança - uso de máscara, higienização frequente das mãos, distanciamento físico, etc. - a exposição ao risco poderá até ser maior do que a de umas horas dentro de um avião, tendo em consideração que as companhias aéreas têm implementadas medidas de estritas de contenção da propagação do vírus..Por outro lado, de carro a margem de manobra para controlar o risco é maior do que numa viagem de avião, em que o espaço é fechado e limitado e não depende de cada um ao lado de quem se senta, a que distância se encontra dos outros passageiros e se estes adotam ou não todas as medidas de segurança.."Em teoria, viajar de carro com a família, com medidas de distanciamento e máscara nas paragens é mais seguro do que andar em aeroportos e em aviões com desconhecidos, mas depende da distância e do local para onde vamos", diz Filipe Froes, consultor da Direção Geral de Saúde para a covid-19..Ricardo Santos, da revista Volta ao Mundo, concorda com o médico e até dá algumas sugestões. "O automóvel permite uma viagem mais controlada, em termos de saúde e de carteira. Por exemplo, uma família de quatro pessoas pode optar por viajar apenas em Portugal e não tem contacto de risco com outros passageiros, como pode acontecer nos aeroportos e aviões. Mas, dependendo das fronteiras que estejam abertas, também há muitas possibilidades para os turistas portugueses que gostem de boas horas de condução: a diversa Espanha, o imbatível Marrocos, as costas e montanhas francesa e italiana ou as ilhas do Mediterrâneo", diz o especialista em viagens, que na edição de junho da Volta ao Mundo dá destaque às viagens por estrada, na reportagem "5 roadtrips para descobrir Portugal"..Na opinião deste especialista, o avião tem três obstáculos para ultrapassar: "a questão da higienização e das máscaras a bordo, por um lado, e o preço dos bilhetes, por outro"..Para que o negócio da aviação seja rentável, não há interesse em reduzir o número de passageiros, o que aumenta os riscos, mas se isso acontecer, serão os passageiros a pagar a fatura..A vantagem do avião, para Ricardo Santos, "é que permite chegar a destinos mais longínquos onde a situação pandémica esteja mais controlada, mas isto poderá causar uma clivagem ainda maior entre quem tem orçamento para grandes viagens e quem não tem. E o que se estava a assistir até agora era uma democratização do sonho. Vamos perder boa parte dessa capacidade de concretizar as viagens das nossas vidas"..De carro ou de avião, o essencial é que se observem as regras para evitar a pandemia. "É isso que as pessoas este ano vão valorizar mais nas suas férias: a segurança em relação ao vírus, os programas em família e terem as suas reservas asseguradas e defendidas em caso de nova onda. O mundo das viagens mudou e os nossos hábitos terão que se adaptar, à semelhança do que se passou com o 11 de setembro, por exemplo, e agora numa escala ainda maior, já que envolve a saúde de todos, independentemente da idade, passaporte ou condição social", conclui Ricardo Santos.