Covid-19. "Abrir e fechar escolas seria desastroso", avisa especialista sueco
"Levantar as medidas e fechar as coisas é realmente prejudicial à confiança e terá também muito mais efeitos negativos do que manter sempre algum tipo de nível de medidas. Abrir e fechar escolas, por exemplo, seria desastroso." O alerta vem da Suécia, país que seguiu uma estratégia diferente de combate à pandemia.
Em declarações ao Observer, a edição dominical do Guardian, o epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública daquele país, Anders Tegnell, mostrou-se contra recentes medidas restritivas, como as tomadas no Reino Unido ou na Noruega, de reimpor restrições de quarentena ou de voltar a aconselhar os cidadãos a não viajarem depois de um aumento de casos de infecção.
"Tentamos pôr em prática medidas que sejam sustentáveis ao longo do tempo, em vez de saltar de um nível extremamente elevado de medidas para nenhum nível", disse Tegnell.
Sendo certo que as medidas estabelecidas pelas autoridades suecas foram das menos restritivas no planeta -- distanciamento social e teletrabalho e escolas para maiores de 16 sem aulas presenciais --, a Suécia manteve as mesmas medidas em vigor enquanto outros países levantaram restrições a partir de abril e acabaram por voltar atrás.
A estratégia sueca, que tentou conciliar a atividade económica com o controlo da pandemia, foi bastante controversa para os observadores internacionais. E acabou por também ser tema de debate nacional em junho, quando o país chegou a ter durante um curto período de tempo a taxa de mortalidade per capita mais elevada do mundo.
O líder dos populistas Democratas Suecos apelou à demissão do epidemiologista chefe devido ao elevado número de mortes, que se situa em 5 763, quando os seus vizinhos Dinamarca, Noruega e Finlândia juntos totalizam 1204 mortes.
Tegnell disse que o ponto de viragem para a pandemia na Suécia teve lugar no início de julho, registando-se uma queda abrupta de novos casos e de mortes. No início de julho tinha mais de 150 novos casos diários e agora regista cerca de 30.
O próprio mostra desconhecer os motivos para tal, embora aponte a imunidade de grupo como hipótese. "É difícil para nós compreendermoExactamente porque é que isto aconteceu nessa altura e porque foi tão rápido e repentino", disse. "Mas acreditamos que o número crescente de pessoas imunes na população deve ter algo a ver com isso."
Tegnell disse que a grande incógnita será o que vai acontecer quando parte dos suecos deixarem as suas cabanas e regressarem às cidades, à escola e ao trabalho. No final de julho, Tegnell aconselhou os trabalhadores a continuarem a trabalhar a partir de casa.
"Sempre tentamos estabelecer medidas sustentáveis e demonstrar resistência no trabalho a longo prazo que teremos que fazer para combater esta pandemia", argumentou então o epidemiologista chefe.
Acabada a primeira grande vaga de infecções na maioria dos países da Europa, Tegnell disse esperar que se desenvolva um novo padrão na Suécia. " O mais provável é que continuemos a ter uma propagação na sociedade, mas a um nível baixo, espera-se que ainda mais baixo do que temos agora. Embora hajda sempre o risco de surtos. Não acredito que vamos ter surtos enormes, mas o mais provável é que tenhamos surtos semelhantes aos que muitos outros países tiveram."
Quanto à economia, a Suécia contraiu 8,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano face ao período homólogo de 2019 e 8,6% quando comparado com o primeiro trimestre do ano. Números históricos, mas não tão desastrosos como a média da UE (-14,4%) em relação ao mesmo período de 2019.