Abril de 2016. Fevereiro de 2017. Julho de 2017. Outubro de 2017. Dezembro de 2017. Outubro de 2018. Fevereiro de 2019. Abril de 2019. Com a demissão, na quinta-feira, do secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins - para o qual ontem à hora do fecho desta edição ainda não havia substituto -, António Costa procede à oitava remodelação desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro (novembro de 2015). Umas foram de uma só pessoa - a atual mas também, por exemplo, a de dezembro de 2017, quando o secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado deu lugar a Rosa Valente de Matos -, mas outras foram de longo alcance, com vários ministros envolvidos e incontáveis secretários de Estado..Do historial das remodelações de Costa fica uma regra (que, como é normal nas regras, tem as exceções que a confirmam): foram sempre a reboque dos acontecimentos. Dito de outra forma: o chefe do governo raramente agiu com controlo total da conjuntura, no que toca a mexidas no seu governo. Na maior parte dos casos, a realidade impôs-se-lhe e houve mesmo uma situação em que, na prática, um ministro (no caso, uma ministra, Constança Urbano de Sousa, titular da Administração Interna) saiu não por decisão da própria (apesar de ter pedido insistentemente) ou do chefe do governo, mas sim porque o Presidente da República decidiu que isso não podia deixar de acontecer (outubro de 2017, na sequência do segunda grande mortandade nos incêndios desse ano, que fizeram ao todo 122 vítimas mortais)..Quem conhece bem o primeiro-ministro afirma que, neste caso, um ponto importante na decisão de Costa de deixar Constança arrastar-se no cargo foi a sua própria experiência como ministro da Administração Interna (2005-2007). E, neste caso, a sensação particularmente "intensa" de ser uma injustiça um ministro desta pasta ter de ser forçado a afastar-se não pelos seus próprios erros mas sim por ter ao seu serviço uma máquina (a Proteção Civil, no caso) marcada por falhas estruturais de inoperância. No fundo o problema do treinador que se demite não porque é mau treinador mas porque tem ao serviço uma equipa fraquíssima. Para que Constança Urbano de Sousa - que pediu a demissão logo a seguir aos incêndios de Pedrógão (junho de 2017) mas a viu recusada - se tenha mantido todo o verão em funções também concorreu o facto de o chefe do governo não querer mudanças na titularidade do MAI precisamente no meio da época de fogos..Outra remodelação em que o primeiro-ministro não controlou a agenda foi aquela que lhe tirou do governo os secretários de Estado Rocha Andrade (Assuntos Fiscais), João Vasconcelos (Indústria) e Jorge Oliveira (Internacionalização), os três suspeitos pelo Ministério Público de terem cometido uma ilegalidade quando aceitaram ir a França ver jogos da seleção portuguesa de futebol com bilhetes oferecidos pela Galp..Os factos originais que deram origem a essas demissões ocorreram em junho de 2016, no campeonato europeu de futebol, mas os três secretários de Estado só deixaram o governo mais de um ano depois. E só o fizeram quando se tornou público que o Ministério Público estava a investigá-los. E mais ainda: na verdade foram os três secretários de Estado que se dirigiram a Costa dizendo-lhe que não tinham condições para ficar no executivo (ainda não eram arguidos mas estavam a caminho de o ser, como aliás aconteceu). Ou seja: se não tivessem pedido a demissão, provavelmente Costa não a teria forçado..Na sequência destas demissões, o chefe do governo fez então o que gosta de fazer: aproveitou para ir mais longe nas substituições, promovendo uma remodelação de secretários de Estado que foi além da dos três envolvidos no Galpgate..Outros que já tinham pedido para sair saíram mesmo, casos de Prata Roque (Presidência do Conselho de Ministros) ou de Carolina Ferra (Emprego Público), sendo substituídos, respetivamente, por Tiago Antunes e Maria de Fátima Fonseca..Quanto ao caso dos últimos dias envolvendo Carlos Martins, há também no PS quem ache que Costa se limitou a atuar a reboque dos acontecimentos. Mas não por causa da história que deu origem à demissão - Martins havia nomeado um primo para seu adjunto - mas porque o secretário de Estado já tinha estado no centro de uma polémica quando se soube que recebia subsídio de alojamento apesar de ter casa em Cascais. "Aí é que deveria ter ido", diz ao DN um deputado do PS.