"Cortes propostos, não só para a Polónia, são inaceitáveis"

No dia em que a Comissão Europeia propôs um corte de 23% nos fundos de coesão da Polónia, secretário de Estado dos Assuntos europeus polaco, Konrad Szymanski, esteve em Lisboa à procura de solidariedade portuguesa para renegociar a proposta. A atual, como está, não é aceitável, diz ao DN, admitindo que é passível de ser vetada
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A proposta da Comissão Europeia para o orçamento europeu de 2021-2027 prevê um corte de 23% nos fundos de coesão para a Polónia. Isto tem que ver apenas com o brexit ou também com as acusações de que a Polónia está a pôr em causa o Estado de Direito?
Acredito que a Comissão Europeia é imparcial. Não quero acusar ninguém de imparcialidade ou de sentimentos com motivações políticas contra o meu país. Mas os cortes propostos, não só para a Polónia, são inaceitáveis. Concordamos que o brexit tem consequências, estamos disponíveis para encontrar um compromisso em relação ao novo orçamento. Claro que há diferenças entre regiões, claro que há novos objetivos, como a imigração e a defesa, a ser reforçados. Mas esperamos uma proposta mais equilibrada. Como está não pode ser aceite.

O que é um bom compromisso?
É preciso uma evolução do orçamento com base em critérios objetivos: consequências financeiras do brexit e convergência económica entre todos os países. Não podemos aceitar uma redistribuição não equilibrada ou até mesmo discriminatória na UE. Acredito que outros países, incluindo Portugal, partilham da mesma opinião.

A Hungria, por exemplo, ameaçou usar o direito de veto. Se a proposta final sobre o orçamento não agradar, a Polónia admite fazer o mesmo?
O quadro financeiro plurianual tem que ser adotado por unanimidade. É óbvio. Não precisamos de sublinhar isso. Viktor Órban não foi o único a falar em veto. Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, disse o mesmo. Claro que as discussões iniciais são emocionais. Não queremos ter que usar esse argumento.

Espera o apoio de Portugal, grande beneficiário das políticas de coesão?
Claro que cada país tem a sua lista de prioridades. Mas vejo muito interesse comum entre Polónia e Portugal. Iremos tentar persuadir no sentido de uma proposta diferente. Não há interesse em abolir as políticas de coesão, que funcionam bem e para o próprio bem do mercado interno. É errado pensar que as políticas de coesão vão só num sentido único. Estes investimentos aceleram o comércio e a integração e beneficiam mesmo os que se intitulam contribuintes brutos, como a Holanda ou a Alemanha. Nalguns países, o euroceticismo quer que se pague menos para a UE. Nós estamos disponíveis para pagar mais, até. Mas se vamos fazer algo novo, na imigração e na defesa, é preciso dinheiro novo.

Olhando para o que se passa na Zona Euro, consegue dizer quando a Polónia entrará no euro?
Para nós é importante uma Zona Euro como parceiro estável, pois instabilidade na Zona Euro é instabilidade na UE. Isso não é do interesse da Polónia. Vemos desenvolvimentos, mas claro que todo o problema não está resolvido. E vemos isso em Itália. É um aviso. Olhamos e vemos contradições entre Norte e Sul. Há tanta tensão que é difícil imaginar um cenário positivo num futuro próximo. Nós somos candidatos a entrar no euro, mas a altura em que iremos reativar o debate sobre isso vai depender de como estiver a Zona Euro. Queremos saber mais sobre como funcionará depois da crise. E a resposta não está fechada. Muita coisa não está resolvida. Mas as nossas políticas fiscais e orçamentais vão no sentido de poder entrar no euro a qualquer altura.

Falou no caso de Itália. É possível afirmar que os mecanismos da Zona Euro têm o poder de controlar a política?
Neste caso a situação é muito sensível. Uma parte dos eleitores tem dúvidas sobre a soberania do seu país devido à pertença à Zona Euro. Trata-se da legitimação democrática de todo o processo. Temos esse problema na UE e ele é talvez mais explosivo dentro da Zona Euro, onde muitas políticas podem ser influenciadas a nível supranacional. O que, claro, é uma consequência da união monetária.

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