Cortes nas ligações fluviais são retrocesso de 25 anos

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, classificou hoje como "um retrocesso de 25 anos" e "uma brutalidade" os cortes nas ligações fluviais entre Lisboa e o Seixal, propostos pelo grupo de trabalho que analisou a reestruturação dos transportes em Lisboa.
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O grupo propõe o fim da ligação fluvial Trafaria-Porto Brandão-Lisboa, devido à reduzida procura, e que as ligações Lisboa-Montijo e Lisboa-Seixal apenas se realizem nos dias úteis e em períodos de hora de ponta.

"Haverá uma redução brutal de carreiras que, com o agravamento das condições de vida e com o aumento dos preços dos transportes públicos, implicará um retrocesso inaceitável contra esta população laboriosa", criticou Jerónimo de Sousa a bordo de um barco da Transtejo, durante uma ação de contacto com os utentes que faziam esta manhã a ligação Seixal/Lisboa.

No entender do secretário-geral do PCP os cortes previstos vão "empurrar os utentes para alternativas mais caras", nomeadamente do setor privado, como os comboios da Fertagus ou os transportes urbanos.

"Não lhes basta tirarem o dinheiro dos nossos ordenados, com aqueles impostos que inventam para ganharmos menos, como agora resolvem mexer nos transportes públicos, com a retirada de carreiras. Isto é inconcebível", lamentou a utente Teresa Campos.

Indignada, diz que a redução do número de ligações irá criar "grandes transtornos" à população e deixa criticas ao grupo trabalho que analisou a reestruturação dos transportes na Área Metropolitana de Lisboa.

"São pessoas que não utilizam os transportes públicos porque andam nos carrinhos de 85 mil euros. Quem decide devia andar como o povo, no dia a dia, nos transportes públicos para saber como é, para depois poder decidir", defendeu Teresa Campos.

Num barco praticamente lotado e sentada a poucos metros, estava Ana Gomes, outra utente assídua dos transportes públicos.

"Isto é horrível. Estão a tirar tudo aos trabalhadores, a qualidade e a esperança de vida. Tudo isto me entristece bastante. Sou utente da Transtejo e dos transportes todos que há por aí e isto está a dar conta do meu estado nervoso", disse, visivelmente revoltada.

Trabalhadores e sindicatos estão igualmente contra as medidas propostas apresentadas ao Governo.

"Está-se a apostar na destruição do transporte público com a redução significativa da oferta e com o corte na mobilidade às populações, nomeadamente à mobilidade nas duas margens do Tejo", criticou José Oliveira, da Comissão de Trabalhadores da Transtejo e membro da Federação de Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS).

Para o responsável, o plano de reestruturação proposto pelo grupo de trabalho para o setor dos transportes públicos não passa de "plano de privatizações de transportes" e defende outro caminho.

"Deve-se apostar na dinamização do desenvolvimento do transporte fluvial e do transporte público em geral, criando um fator de intermodalidade de transportes e um elemento de plano estratégico de transportes", salientou José Oliveira, após a chegada ao Cais do Sodré.

O grupo de trabalho propõe ainda, nas ligações Lisboa-Cacilhas e Lisboa-Barreiro, uma menor utilização dos novos ferries e a utilização de navios de menor consumo, a antecipação da hora de encerramento do serviço diário e a redução de frequência aos fins de semana.

Estas medidas devem permitir uma poupança anual de 7,2 milhões de euros ao Grupo Transtejo, que também detém a Soflusa.

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