O número é assustador. Mais de 80% dos portugueses consideram corruptos os políticos, os altos quadros do Estado e, sobretudo, os gestores. Uiii!! 80% é muito por cento para pensar que se trata apenas da lengalenga clássica dos cidadãos sobre o funcionamento do Estado e da sociedade. O estudo que nos diz isto é o barómetro da Transparência Internacional da Europa e da Ásia, divulgado nesta semana e em que foram ouvidos mais de mil portugueses..Esta percentagem, que é só ligeiramente superior em Portugal em relação a outros países da Europa , talvez explique, em boa parte, o sucesso dos fenómenos populistas, xenófobos e racistas no Velho Continente - e que agora ganham outro élan com a eleição Donald Trump do outro lado do Atlântico. Figuras como Beppe Grilo e o seu Movimento 5 Estrelas em Itália, ou Marine Le Pen e a Frente Nacional em França, bebem deste descontentamento popular porque instilam essa ideia de que todos os outros que fazem parte do sistema são corruptos e só agem no interesse próprio, tirando proveito dos cargos que ocupam..Os políticos nacionais sabem o que os portugueses pensam deles. Não é preciso citar casos, porque são tão flagrantes e os nomes tão sonantes, para perceber o que tem contribuído para uma perceção da degradação da vida pública. Mas os nossos políticos encolhem os ombros, passam ao largo, e até desabafam em jeito de alívio que por cá as forças extremistas têm resultados desprezíveis nas eleições. Esquecem-se de que há uma geração que já era adulta no 25 de Abril e que, por isso, viveu ainda em ditadura e nunca dará o seu voto a esses extremistas. E a dos seus filhos que ainda os ouviram falar dos tempos negros do Estado Novo e também não contribuem para o peditório desse tipo de populismo, mesmo que estejam muito descontentes. Os filhos dos filhos, os jovens de agora, estão já longe dessas lembranças da repressão. O que sabem é que têm estudos e não têm emprego nem condição de vir a ter uma vida próxima daquela que foi a dos pais..São estes que têm engrossado as fileiras da abstenção, mas se um dia decidirem ir às urnas não se sabe bem que partidos irão escolher para dar voz ao seu descontentamento. E os extremismos, ali mesmo ao lado, podem passar a ser nossos também. Há corrupção pura e dura na Europa? Há em Portugal? Há certamente. Mas não se combate com populismos vários. Esses ajudam é a corromper mais a democracia..A sociedade precisa é de ficar mais equilibrada entre ricos e pobres, mais transparente e qualificada para que este sentimento de desconfiança não se transforme em ressentimento e ódio.