A primeira corrida foi breve e curta. "Uma distância de pouco mais de um quilómetro e duzentos metros", conta a rir o chef Kiko Martins. Depois disso nunca mais parou. Entretanto já fez várias ultramaratonas, inclusive 110 quilómetros numa prova em Marrocos..Hoje em dia, não são raras as vezes que podemos cruzar-nos com o chef, fora dos seus restaurantes, a correr ora na zona ribeirinha de Lisboa ora pelos trilhos de Monsanto. A corrida, sobretudo entre montanhas e vales, é o lado B do chef Kiko Martins,..Voltando à zona de partida, os primeiros quilómetros foram feitos na China, quando estava a dar a volta ao mundo com a mulher. Nessa viagem, onde conheceu a gastronomia de 26 países, percebeu que o comer e beber muito acrescentaram-lhe cinco quilos ao peso. Ao ficar na casa de uma família foi convidado a correr pelo patriarca chinês. Os tais 1200 metros de esforço. "Senti-me completamente morto e que estava numa forma física péssima." Isto foi em 2009. Depois foi correndo e correndo. "No Japão fiz os meus primeiros 20 minutos em Tóquio, e fiquei muito feliz. E depois, quando cheguei aos EUA, no Central Park em Nova Iorque fiz os meus primeiros dez quilómetros.".Ainda em viagem fez a primeira corrida oficial, na Patagónia. "Ainda me recordo como se fosse hoje. Demorei 42 minutos a fazer os meus primeiros dez quilómetros e fiquei supercontente." De regresso a Lisboa, continua a correr frequentemente em estrada. Até que um dia um amigo convidou-o a ir correr pelos trilhos de Monsanto... às seis da manhã. "Achei aquilo bizarro. Não só pela hora, mas porque, durante a corrida, só se falava de corrida e das provas feitas ou por fazer. Achei que nunca mais repetia. O certo é que passados uns dias voltei." Daí, influenciado pelos trilhos de Monsanto, uns meses depois correu o primeiro ultra trail (distância que vai para lá da maratona) em serra d"Arga: "Fiz os 54 quilómetros da prova em 7 horas e 28 minutos. Depois de cortar a meta achei que nunca mais me metia numa coisa parecida.".Um ano depois estava em Marrocos a fazer 110 quilómetros. "Hoje em dia encontrei um equilíbrio. Já não faço essas distâncias, porque implicam mais de 15 horas semanais e não tenho esse tempo." Para ajudar segue um plano desenhado pelo atual campeão de trail em Portugal, Hélio Fumo. Para o chef a corrida não serve apenas para estar em forma e treinar para esses desafios. "A corrida ajuda-me a estar mais focado e a arranjar soluções para os problemas do dia-a-dia." Curiosamente, conta, durante os confinamentos da pandemia, sentiu-se esgotado e sem vontade de correr. Aos poucos está a regressar à forma, tanto na corrida como nos negócios. "Ainda há muitos problemas para resolver, mas as coisas estão a ficar mais estáveis e mais tranquilas." E enquanto aos poucos os seus restaurantes voltam à normalidade, já tem a próxima corrida marcada. Será dentro de semanas nos trilhos dos Açores. Três dias em três ilhas diferentes num total de 80 quilómetros..filipe.gil@dn.pt