Corrida às armas: gastos militares mundiais atingem máximos históricos
Desde 2010 que os Estados Unidos não investiam tanto dinheiro nas suas forças militares, segundo dados divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (SIPRI). O presidente Donald Trump decidiu investir mais 4,6%, em 2018 - mais 39 milhões de dólares -, em matéria de defesa, atingindo os 581 mil milhões de euros na aquisição de armamento e no aumento dos salários dos 1,4 milhões de militares norte-americanos. Uma verba que representa 36% do gasto total mundial, que atingiu em 2018 máximos históricos.
Este facto não deverá ser surpreendente para muitos, pois Donald Trump sempre manifestou publicamente as intenções de fortalecer a supremacia norte-americana sobre os principais adversários geoestratégicos, China e Rússia. Nos seus anos enquanto presidente, Trump tem escolhido cortar o investimento em matérias como ajudas ambientais, cooperações internacionais ou luta contra a pobreza, de modo a conseguir investir mais dinheiro nas autoridades e forças americanas.
Apesar de o investimento não superar o de 2010 (é 19% menor), em que o presidente dos EUA era o democrata Barack Obama, o contexto atual apresenta-se muito diferente. Em 2010, o país norte-americano encontrava-se com milhares de tropas mobilizados na guerra do Afeganistão e no Iraque. Atualmente, existe um número muito pequeno de tropas no Afeganistão e centenas na Síria e no Iraque, visto Trump ter decidido diminuir o número de militares americanos envolvidos em conflitos estrangeiros.
"O aumento nos gastos dos EUA responde mais a uma estratégia de dissuasão do que às exigências atuais das suas operações no exterior", explica Aude Fleurant, pesquisadora do SIPRI, por telefone, ao El País. Fleurant acredita que o gasto não é uma exceção mas sim algo que se vai tornar regular enquanto Trump estiver na Casa Branca.
Apesar dos obstáculos colocados pelo défice público e pela perda do controlo na Câmara dos Representantes, que pela primeira vez, em oito anos, tem mais representantes democratas que republicanos, Trump mostra-se bastante assertivo sobre a decisão de conseguir a supremacia mundial americana e tem vários planos para o garantir.
Trump já disse querer também investir na criação de um exército ligado ao espaço "para assegurar o domínio do cosmos pelos EUA", algo que irá requerer um investimento no valor de milhões de dólares. 2,69 mil milhões de euros estão nos planos de investimento do presidente para os próximos trinta anos com o objetivo de modernizar o arsenal nuclear.
Não foi apenas o país norte-americano que investiu mais dinheiro na sua defesa. Em geral, os gastos mundiais cresceram em 2.6% e ultrapassaram os 1,8 biliões de euros, um número recorde desde 1988, o primeiro ano com dados fiáveis disponíveis.
Os países que investiram mais dinheiro na sua defesa militar em 2018 foram os Estados Unidos, a China, a Arábia Saudita, a Índia e a França, que juntos representaram 60% dos gastos militares globais. De resto, norte-americanos e chineses protagonizam mais de metade do investimento total do mundo em matéria militar.
A China tem vindo a multiplicar em grande escala os gastos militares, tendo obtido no ano passado um valor 15 vezes superior ao investido nos anos 80. Com um investimento de 250 milhões de euros, o país foi considerado o segundo maior investidor em defesa mundial em 2018.
Já a Rússia não entrou no top 5 (6.ª) e cortou 3,5% nos seus gastos militares no ano passado. Fleurant acredita que a redução se deve ao investimento extraordinário que foi feito entre 2010 e 2015 para modernizar o armamento e que vai haver um crescimento por parte de Moscovo a curto prazo.
Os Estados Unidos, a Rússia e a China estão a competir pelo desenvolvimento de novas armas, como mísseis hipersónicos, para garantir a sua supremacia mundial. Para isso, tanto Trump como Putin optaram por sair do Tratado de Forças Nucleares assinado durante a Guerra Fria, que defende o desarmamento, para terem mais liberdade de competição com a China, país que nunca esteve presente nos tratados.