Boris v Hunt. Do "matar ou morrer" ao "aniquilados"

O Reino Unido aguarda para saber o resultado da disputada entre o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, e o antecessor no cargo e antigo mayor de Londres Boris Johnson, já no próximo dia 23.
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Avisos e promessas. São várias as frases que têm marcado o período de campanha dos candidatos à liderança do partido Conservador, no Reino Unido. Boris Johnson e Jeremy Hunt têm focado os seus discursos no Brexit, na imigração e na ideia de eleições antecipadas.

No próximo dia 23 de julho, os 160 mil militantes do partido irão conhecer o nome do novo líder e sucessor de Theresa May. Os conservadores começam este sábado a receber os boletins de voto e, em fim de campanha, todas as frases contam.

Com ou sem acordo? "É matar ou morrer"

A ideia foi proferida por Boris Johnson, o que fez a primeira-ministra demissionária tecer duras críticas à abordagem do candidato. Referia-se à saída do Reino Unido da União Europeia, sobre a qual tem frisado que acontecerá, com ou sem acordo. "Estamos a preparar-nos para sair a 31 de outubro. Venha o que vier. É matar ou morrer". Embora confesse não acreditar que a saída sem acordo seja o resultado deste impasse. "Uma probabilidade em mil", aponta.

Jeremy Hunt partilha da mesma opinião. Caso "um acordo de saída simplesmente não for possível, então a única maneira de cumprir o mandato democrático do referendo é sair sem um acordo", disse. "Que é o que vamos fazer."

Theresa May, por outro lado, mesmo de saída, tem insistido no Brexit com acordo. Durante a sua última cimeira em Bruxelas, a primeira-ministra demissionária reforçou que a melhor abordagem seria o Reino Unido "sair de forma ordenada". Já lá vão três tentativas para fazer passar o acordo e o Brexit continua a ser uma incógnita para os britânicos e restantes europeus.

O que Hunt diz não estar aberto a discussão são os diretos dos cidadãos do Reino Unido. "Uma coisa que recuso negociar é os direitos dos cidadãos", lembrou. Tem tentado acalmar os muitos europeus "que fizeram do Reino Unido a sua casa" e garantindo "que os seus direitos [neste país] serão protegidos seja qual for o resultado [do Brexit]".

Boris Johnson sublinhou a mesma ideia, lembrando que são cidadãos que "contribuem para a sociedade [britânica] ", "respeitadores da lei na generalidade" e, por isso "merecem esta proteção".

Reduzir imigrantes ou aceitá-los 'por pontos'

A imigração tem sido um dos principais temas de discussão durante o decorre da campanha, com Boris Johnson a propor um sistema de entrada por pontos, já mencionado no passado, e com o adversário Jeremy Hunt a não deixar espaço para negociações.

Boris Johnson acredita que o sistema por pontos, inspirado no modelo australiano, seria a melhor opção para controlar a imigração no Reino Unido. "Eu sempre fui a favor de pessoas com talento poderem vir para este país e fazerem aqui as suas vidas. Simplesmente só precisamos de garantir um controlo democrático", justificou.

De acordo com o seu plano, todos os que entrassem no Reino Unido deveriam responder a três exigências. São eles o contributo que poderiam dar para ao país (com emprego fixo ou a capacidade de falar inglês); bem como garantias de que não representam um encargo para os serviços públicos britânicos ou que estão a tirar empregos que podiam ir para as pessoas que já vivem no país; mas também garantias de que não representam uma ameaça para o Reino Unido. Não é a primeira vez que este sistema é discutido, mas a ideia nunca convenceu na totalidade a primeira-ministra demissionária. O candidato conservador acredita que é uma forma de melhor regulação. "Temos que ser mais duros em relação aos que abusam da nossa hospitalidade."

Jeremy Hunt não tem deixado sequer espaço para discussão, dando a entender que não está interessado em abrir as potas do Reino Unido. "Temos de reduzir o número [de imigrantes] e o melhor a fazer é melhorar as competências dos britânicos. Eles podem fazer estes trabalhos qualificados", defende.

A atual política de imigração britânica tem resultado em mais saídas do que entradas, com o número de entradas em queda.

Eleições antecipadas? "Seríamos aniquilados"

A decisão não está nas mãos dos candidatos, mas ambos têm algo a dizer sobre o tema. O cenário de eleições antecipadas poderia ser prejudicial para o partido Conservador e, consequentemente, para Boris Johnson e Jeremy Hunt. E os dois estão conscientes disso.

"Se lutarmos contra uma eleição antes de implementar o 'Brexit', seremos aniquilados", disse Jeremy Hunt.

Boris Johnson acrescentava a certeza de que "seria um desastre". "Não quero eleições antecipadas de todo. Mas temos de estar preparados para derrotar Jeremy Corbyn e o partido Trabalhista. Seria um desastre económico e político para o Reino Unido."

O Reino Unido aguarda agora para saber o resultado da disputada entre o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, e o antecessor no cargo e antigo mayor de Londres Boris Johnson. Os dois candidatos conservadores participam este sábado em mais dois debates.

No dia 24 de julho, no dia a seguir à confirmação de quem será o seu sucessor, Theresa May apresenta formalmente a sua demissão do cargo. O prazo para a chegada do voto postal encerra às 16:00 de 22 de julho.

Apesar de Boris Johnson se ter mantido como o favorito a primeiro-ministro até agora, as últimas sondagens davam conta de que tinha sido ultrapassado pelo adversário Jeremy Hunt, com a preferência de 61% dos militantes.

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