Coronavírus. Mais 242 mortos num só dia, a maior subida desde o início do surto

Número de vítimas mortais já supera os 1350 em todo o mundo. Aumento substancial nas últimas 24 horas deve-se à adoção de novos métodos clínicos para diagnóstico, informaram as autoridades da província de Hubei, onde o vírus foi inicialmente detetado.
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O número de mortes provocadas pelo coronavírus na província de Hubei, epicentro do novo vírus surgido na China, aumentou em 242 num só dia, informou a autoridade de saúde local, já esta quinta-feira, elevando o total de vítimas mortais nesta província para 1310.

Isso eleva o número total de mortes na China continental para pelo menos 1.355. O número global de mortes é de pelo menos 1.357, com uma morte em Hong Kong e outra nas Filipinas.

Na sua atualização diária, a comissão de saúde de Hubei também confirmou outros 14.840 novos casos na província onde o novo coronavírus surgiu em dezembro, o que eleva o número total de casos no epicentro do surto para 48.206.

Este grande aumento ocorreu, segundo as autoridades locais, devido à adoção de novos métodos clínicos de diagnóstico para os casos do COVID-19.

O governo de Hubei explicou que agora está a adicionar "casos diagnosticados clinicamente" para facilitar o tratamento precoce desses pacientes.

As autoridades justificaram a mudança de abordagem com o "aprofundamento da nossa compreensão sobre a pneumonia causada pelo novo coronavírus e com a experiência acumulada no diagnóstico e tratamento".

No total, desde o início do surto, houve 33.693 pacientes hospitalizados na província de Hubei, incluindo 1.437 em estado crítico, de acordo com a autoridade de saúde local, que acrescentou que 3.441 pacientes recuperaram-se e receberam alta.

O número global de casos confirmados de coronavírus em todo o mundo ultrapassou já os 60 mil (60.015), com a grande maioria dos casos na China continental.

De acordo com a Comissão de Saúde, a mudança significa que os pacientes podem receber tratamento "o mais rápido possível" e ser "consistentes" com a classificação usada em outras províncias.

A mesma entidade acrescentou que havia feito a mudança "à medida que nossa compreensão da pneumonia causada pelo novo coronavírus se aprofunda e à medida que acumulamos experiência em diagnóstico e tratamento".


"Neste tipo de epidemia há dois métodos: rastrear de forma ampla para que nenhum doente fique de fora ou fazer uma deteção precisa, que leva mais tempo", declarou à AFP Kentaro Iwata, professor da Universidade de Kobe (Japão) e especialista em doenças infecciosas.

"O dilema sempre existe", completou Iwata, que considerou "compreensível" que as autoridades de Hubei optem pela primeira solução ante a urgência.

Comité Central do Partido Comunista afasta líderes regionais

O Comité Central do Partido Comunista Chinês anunciou esta quinta-feira a substituição do secretário da organização em Hubei, província de onde é originário o surto do coronavírus e onde nas últimas 24 horas morreram 242 pessoas.

Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, que cita uma decisão do Comité Central, Ying Yong, que foi, até à data, presidente da câmara de Xangai, capital financeira do país, substitui Jiang Chaoliang como secretário do Comité Provincial de Hubei. Jiang ocupava aquele cargo desde 2016.

O Comité Central é composto pelos 376 membros mais poderosos do Partido Comunista, incluindo os 25 do Politburo e os sete do Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China.

O chefe do partido em Wuhan, Ma Guoqiang, também foi despedido, tendo sido substituído por Wang Zhonglin, de Shandong.

A China substituiu esta quinta-feira o diretor do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado, um dos mais altos quadros do país a ser afastado depois de meses de protestos pró-democracia em Hong Kong. Zhang Xiaoming foi substituído por Xia Baolong, alto funcionário da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), o principal órgão consultivo do Partido Comunista. Zhang foi despromovido para vice-diretor do Gabinete de Ligação, detalhou o Conselho de Estado.

Mais de dez cidades da província de Hubei, do qual Wuhan, epicentro do Covid-19, é capital, foram colocadas sob quarentena, com entradas e saídas interditas, numa medida que afeta cerca de 50 milhões de pessoas.

A Comissão Provincial de Saúde de Hubei (centro do país) indicou esta quinta-feira que o número de mortos na província é agora de 1.310.

Nas últimas 24 horas, até à meia-noite de quarta-feira (hora local), as autoridades registaram mais 14.840 novos casos da infeção em Hubei, cuja capital é Wuhan.

Na segunda-feira, as autoridades chinesas anunciaram a demissão de dois altos quadros da Comissão de Saúde de Hubei, o diretor, Liu Yingzi, e o secretário do Partido Comunista da China (PCC) naquele organismo, Zhang Jin.

Ambos os cargos foram assumidos pelo vice-diretor da Comissão Nacional de Saúde, Wang Hesheng, que faz parte do grupo de trabalho formado pelo Governo central para lidar com o surto, e que foi também recentemente nomeado membro do mais alto órgão executivo de Hubei.

Por enquanto, não há indicações de que qualquer membro do Governo central possa ser afastado, e os órgãos oficiais do regime têm dirigido as culpas para as autoridades de Hubei.

A crise de saúde pública paralisou o país, ditando o encerramento de fábricas, restaurantes e retalhistas. As consequências são imprevisíveis para os empresários e trabalhadores da segunda maior economia do mundo.

O Partido Comunista, que governa o país desde 1949, enfrenta assim umas das priores crises de legitimidade em décadas, mas, até à data, não há indicações de que qualquer membro do Governo central possa ser afastado.

Muito cedo para prever o fim da epidemia, avisa OMS

Os números atualizados pelas autoridades de saúde de Hubei vieram horas depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter alertado que ainda é "muito cedo" para prever o fim da epidemia causada pelo novo coronavírus Covid-19.

"Penso que é muito cedo para tentar prever o início, o meio ou o fim dessa epidemia", disse aos jornalistas o chefe do departamento de urgências de saúde da OMS, Michael Ryan.

Ryan falava em conferência de imprensa na sede da OMS, em Genebra, onde estão reunidos centenas de especialistas na busca de uma forma de conter o coronavírus

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lembrou que "esta epidemia pode ir em qualquer direção".

A conferência que a OMS está a organizar reúne várias centenas de especialistas em epidemiologia de todo o mundo para analisar formas de combater o vírus.

Impacto difícil de prever na economia mundial, diz o FMI

Entretanto, as preocupações sobre o impacto económico do novo vírus vão aumentando a nível global, mas, para a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), é ainda difícil de prever.

"É demasiado cedo para dizer" qual vai ser o impacto sobre o crescimento da economia internacional, afirmou Kristalina Georgieva, na cadeia televisiva CNBC.

Georgieva sublinhou que o cenário mais provável era o de uma forte baixa das atividades económicas na China, seguida de uma recuperação rápida, com um impacto mundial relativamente contido.

"Foi o que se passou na epidemia precedente" da SARS (sigla em inglês de síndroma respiratória aguda severa), em 2002/2003. Em tal cenário, o impacto sobre a economia mundial pode ser contido.

Em todo o caso, a dirigente do FMI relativizou as suas afirmações, sublinhando que o novo vírus e o respetivo contexto são diferentes.

Na altura, "a China era diferente", isto é, pesava menos na economia mundial. Agora, é a segunda potência mundial.

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