Coronavírus ameaça a maior expedição de sempre ao Ártico
A equipa multinacional da maior expedição de sempre ao Ártico estava preparada para problemas como ataques de ursos polares, grandes tempestades de neve ou até mesmo dificuldades na construção de uma pista no gelo.
Mas os seus elementos nunca imaginaram que uma pandemia pudesse correr o mundo e ameaçar a sua missão.
"Tínhamos muitos cenários diferentes, planos alternativos em equação", disse Markus Rex, que lidera a missão MOSAIC, à AFP por telefone, a caminho de Spitsbergen, a principal ilha do arquipélago de Svalbard.
"Mas ter uma pandemia global desta escala, era algo que não esperávamos... Tivemos que desenvolver novos planos muito rapidamente."
Com as fronteiras fechadas enquanto os governos tentavam limitar a transmissão do novo coronavírus, a equipa que estava na missão foi praticamente interrompida.
Uma equipa devia voar em abril para aliviar os cientistas no gelo, mas o plano teve que ser repensado. Após dois meses de atraso, uma nova tripulação está finalmente a caminho de Spitsbergen em dois navios, que se vão encontrar com o quebra-gelo Polarstern para permitir que os recém-chegados desembarquem. Entre o grupo que se dirige para o campo está o próprio chefe de missão Markus Rex, climatologista e físico.
A expedição de 390 dias começou em setembro, com o quebra-gelo pertencente ao instituto polar e marítimo alemão Alfred Wegener rumando à Noruega.
A missão tem como objetivo estudar a atmosfera, o oceano, o gelo do mar, o ecossistema e os processos naturais - procura construir uma imagem de como as alterações climáticas estão a afetar a região e o mundo inteiro.
Cerca de 600 especialistas estão envolvidos no maior projeto de pesquisa do Ártico.
No final de fevereiro, a deriva do quebra-gelo levou a apenas 156 quilómetros do Polo Norte - nunca um navio se aventurou tão longe a norte durante o inverno no Ártico.
Especialistas de cerca de uma dúzia de países deveriam voar para o Polarstern desde Svalbard em abril. Mas o encerramento das fronteiras forçou a paragem dos aviões disponíveis.
Depois de vários obstáculos, a missão decidiu levar os cientistas para Spitsbergen. O Polarstern interromperá o trabalho por várias semanas para ir buscar a nova equipa.
Mas descobrir a logística da complicada transferência de pessoal era apenas uma coisa a ter em conta: "A nossa segunda dificuldade: garantir que o vírus não entra na expedição", disse Rex.
Assim, os membros da tripulação foram colocados em quarentena rigorosa de 14 dias em Bremerhaven antes de partirem para os dois navios de pesquisa. Dois hotéis foram reservados exclusivamente para esse fim.
"As portas não estavam abertas, não houve contacto com mais ninguém durante a quarentena e, portanto, tínhamos certeza de que o vírus não seria introduzido no grupo durante a quarentena também. A comida foi colocada diante da porta", disse Rex.
Para descontraírem, os cientistas confinados cantaram o "Submarino Amarelo" dos Beatles das janelas, segundo o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung.
"Todo o pessoal foi testado três vezes", disse Markus Rex, aliviado por a missão na qual passou 11 anos da sua vida poder continuar.
A bordo do Polarstern, que já passou por 150 dias de noites polares e temperaturas tão baixas quanto -39,5 graus Celsius, os cientistas viram a pandemia surgir à distância.
"Muitos deles têm famílias e tentaram manter o contacto mais próximo possível com eles por telefone via satélite", disse Torsten Kanzow, que atualmente está no quebra-gelo.
Felizmente, a equipa não teve problemas com alimentos, suficientes para durar alguns meses.
Se tudo correr bem com a transferência de pessoal, Rex observou que, no final, não deve haver muito impacto nas suas pesquisas, além de uma breve interrupção na recolha de algumas medições.
"Existem dispositivos de medição automáticos no campo de pesquisa que estão a enviar novos dados diariamente. Numa expedição que dura 13 meses, ainda é bom suportar uma interrupção de algumas medições", disse Rex.
A expedição chegará ao fim em 12 de outubro.