COP26. A polémica viagem de avião de Boris Johnson

Depois de repreender os líderes mundiais por não fazerem mais no combate à mudança climática, o primeiro-ministro britânico foi criticado por escolher um charter para voar de volta para Londres desde Glasgow, em vez de utilizar o comboio
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A aviação - especialmente os charters privados - são uma besta negra do lóbi ambiental, pois emite muito mais carbono por passageiro do que outras formas de transporte. Por isso, a escolha de Boris Johnson mereceu fortes críticas, já que a distância entre Londres e Glasgow é de cerca de 560 km e o trajeto pode ser feito de comboio em cerca de cinco horas

Centenas de ativistas que participam da conferência do clima COP26 na maior cidade da Escócia vieram de Londres de comboio, embora a linha principal para Glasgow tenha sido atingida por longos atrasos devido ao mau tempo no domingo.

Johnson voou para a COP26 no domingo desde Roma, onde participou da cimeira do G20 no fim de semana, a bordo de um avião fretado pela Airbus com as cores da bandeira do Reino Unido. E vai usar o mesmo avião para regressar a Londres na terça-feira, disse o seu gabinete, após ter participado na abertura da COP26 com um discurso a alertar para o facto de as gerações futuras "não perdoarem" os líderes atuais se estes não agirem.

"É importante que o primeiro-ministro possa deslocar-se rapidamente pelo país e enfrentamos restrições de tempo significativas", justificou o porta-voz de Johnson aos media presentes em Glasgow.

Londres fica, em média, a uma distância de 60 a 90 minutos de Glasgow por avião, enquanto a viagem de comboio pode levar cinco horas. "O combustível que usamos é sustentável e as emissões também são compensadas", sublinhou o porta-voz de Downing Street, acrescentando ainda que sob a liderança de Boris Johnson, a Grã-Bretanha está "a liderar os esforços para chegar à neutralidade carbónica".

Outros líderes deram eco aos apelos de Boris Johnson por ações contra a mudança climática, mas também enfrentam críticas pelas suas próprias opções de transporte, como por exemplo o presidente norte-americano Joe Biden.

A comitiva de Biden na cimeira do G20 em Roma contava com mais de 80 veículos, liderados pelo seu carro à prova de bomba, conhecido como "The Beast", que não é propriamente famoso pela sua eficiência de combustível.

Muitos desses carros, bem como os de outras delegações, ficaram parados com os motores a funcionar em ponto morto à porta do edifício da cimeira do G20, enquanto os líderes se reuniam no interior.

Mohamed Adow, diretor da Power Shift Africa, comentou à AFP que o governo de Boris Johnson cortou na semana passada os impostos sobre voos domésticos, provocando as críticas dos ativistas climáticos na véspera da COP26.

"Boris Johnson está certo em alertar que o mundo está a 'um minuto da meia-noite' quando se trata de mudanças climáticas", disse o dirigente. "É por isso que teria sido bom vê-lo dar o exemplo com um comportamento de baixo carbono, utilizando o comboio para regressar de Glasgow, em vez de voar de jato".

"Talvez se o governo do Reino Unido usasse os impostos sobre voos domésticos para melhorar a sua infraestrutura ferroviária, os transportes de baixo carbono poderiam ser mais acessíveis, mais baratos e mais amplamente utilizados."

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