Quando no domingo, Giuseppe Conte saiu do palácio Quirinale com o veto do presidente Sergio Mattarella à sua escolha para ministro das Finanças, pareciam ter chegado ao fim as ambições do jurista escolhido pelo Movimento 5 Estrelas e pela Liga Norte para chefiar o governo de Itália. Mas ontem, em mais uma reviravolta daquelas em que a política italiana é pródiga, Conte voltou a fazer parte da equação..Tudo porque a hipótese de se formar um governo técnico, de iniciativa presidencial, liderado pelo ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional Carlo Cottarelli caiu por terra. E depois de mais uma tarde de negociações, 5 Estrelas e Liga voltaram a entender-se para apresentar um executivo político - uma espécie de take II para Conte.."Foi alcançado um acordo para um governo 5 Estrelas-Liga com Conte como primeiro-ministro", podia ler-se num comunicado assinado pelos líderes de ambos os partidos - Luigi Di Maio e Matteo Salvini. O segundo reagiu no Facebook, onde escreveu: "Empenho, consistência, ouvir, paciência, bom senso, cabeça e coração pelo bem dos italianos. Talvez tenhamos lá chegado após tantos obstáculos, ataques, ameaças e mentiras. Obrigado pela vossa confiança amigos. Adoro-vos e sei que preciso de vocês"..O novo primeiro-ministro toma posse esta sexta-feira às 16.00 de Roma (menos uma hora em Lisboa). Para segunda-feira estará previsto um discurso do novo primeiro-ministro sobre política geral e a apresentação de uma moção de confiança votada na segunda e terça-feira..As eleições de 4 de março deixaram Itália num impasse político que se prolonga já há 89 dias. O 5 Estrelas foi o partido individual mais votado e a Liga a mais votada dentro da coligação de direita. Mas ambos muito longe da maioria absoluta..No dia 27, o veto de Mattarella ao eurocético Paolo Savona, de 81 anos, para ministro da Economia voltou a abrir a crise política. O presidente nomeou então Cottarelli para primeiro-ministro. Mas este acabou também por fracassar..O novo governo proposto por Conte continua a integrar Savona, mas agora na pasta dos Assuntos Europeus. Para a Economia, a escolha recai sobre Giovanni Tria, um professor de economia política próximo do programa da Liga - sobretudo a simplificação e baixa radical dos impostos. Mas, ao contrário de Savona, defensor de um plano B contra o euro que vê como "a prisão alemã", Tria é contra a saída da moeda única. Uma escolha estratégica para acalmar não só as preocupações de Bruxelas como a instabilidade dos mercados provocada pela perspetiva da chegada ao poder de um executivo formado por dois partidos eurocéticos na terceira maior economia da União Europeia..Bolsas.O clima de incerteza dos últimos dias refletiu-se nos mercados. Mas ontem a bolsa de Milão fechou a ganhar 0,06%, depois de uma subida de 2% na véspera. O spread - a diferença entre as taxas de juro a dez anos alemãs e italianas, que na terça-feira tinha chegado aos 300 pontos, baixou ontem para os 238..Esta nova crise política deixou também os italianos desconfiados. Uma sondagem divulgada na quarta-feira pelo instituto Demopolis revelou que 54% dos inquiridos afirmaram-se "preocupados" com a situação, enquanto 30% garantiram estar mesmo "zangados" e 11% disseram-se "desiludidos". Apenas 5% mostraram-se "confiantes" com o futuro político do país.