Consumo de eletricidade indica queda do PIB próxima de 20%

Abril terá sido o mês mais castigado com a crise pandémica. Primeiros dias de junho apontam para uma quebra da atividade acima de 16%.
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A queda da atividade económica em Portugal devido à crise da pandemia de covid-19 terá andado muito perto dos 20% nos meses de maior confinamento, com a paragem quase total da economia. O valor é apontado pelo economista Miguel St. Aubyn, vogal do Conselho das Finanças Públicas, com base nos consumos de eletricidade.

Para chegar a este resultado, o economista calculou a elasticidade do consumo de eletricidade em relação à atividade económica, ou seja, o impacto que uma quebra tem no produto do país, chegando à conclusão de que a relação é positiva de 1,42 pontos.

Numa primeira análise publicada no final de maio, St. Aubyn apontava para "uma queda na atividade económica na ordem dos 17,9% (a média de março e maio, até ao dia 21)". Extrapolando para o resto do ano, calculava "uma estimativa aproximada para a queda no PIB anual de -3% (um sexto de 17,9%)".

O DN/Dinheiro Vivo pediu uma atualização dos dados com base na informação mais recente dos consumos de eletricidade no país para avaliar os efeitos, mas também se já se notavam os efeitos do desconfinamento.

O consumo de energia (eletricidade e gás natural) é um indicador muito fidedigno - apesar de imperfeito - que traduz de forma muito próxima à realidade o andamento da economia de um país. E a sensibilidade destas variáveis ao comportamento dos agentes económicos permite aferir em que sentido está a avançar ou recuar o PIB.

O lento regresso

De acordo com os dados analisados, o mês de abril - o primeiro com as medidas de confinamento totalmente implementadas - foi mais castigado na paragem económica com uma quebra no produto a tocar nos 20% (19,7%). Os resultados indicam que a severidade das medidas não foi apenas sentida através do confinamento da população, mas também na paragem da atividade, numa queda sem precedentes.

O ministro das Finanças já admitiu uma quebra que poderá ter tocado nos 25%. "Nos últimos dias de março e nos primeiros de abril o PIB, a nossa produção, terá caído face ao mesmo período do ano passado números próximos dos 25%. Isto não aconteceu na nossa memória recente em Portugal", disse Mário Centeno em entrevista à Antena 1.

É uma cifra que não está muito longe dos resultados apurados por Miguel St. Aubyn na análise aos consumos de energia até ao dia 02 de junho. O mês de maio já indicia alguma recuperação, mas ainda muito tímida. E o mesmo se pode aferir dos primeiros dias deste mês.

Para chegar a estes resultados, o economista utilizou o indicador coincidente do Banco de Portugal para a atividade económica e os dados diários do consumo de eletricidade. Neste caso é usada a média dos últimos sete dias.

Um dado curioso é a queda no consumo de eletricidade, que começou ainda antes da declaração do estado de emergência. Mas não há nenhum dado que indicie a recuperação rápida da economia, ao ritmo do fechamento: "A diferença entre março e abril aponta no sentido de uma ligeira recuperação (3,7%)", referia o estudo publicado no final de maio. E para já, com os dados atualizados a 02 de junho, tudo aponta para que o desconfinamento esteja a ser feito a passo de caracol.

Jornalista do Dinheiro Vivo

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