Considero que o papel primaz de um Embaixador é o de desenvolver as relações bilaterais entre o país que representa e o país que o acolhe. Assim que cheguei a Portugal, juntamente com a minha equipa, comecei a trabalhar incansavelmente para isso. Não se trata de objetivos etéreos ou inalcançáveis. Há resultados, as relações entre Israel e Portugal evoluíram para um novo patamar - que é só o começo porque o nosso potencial é enorme e o caminho que decidimos palmilhar juntos tem-se revelado o acertado..Assim, quando me perguntam qual é o principal desafio que encontro como Embaixador de Israel em Portugal, não hesito em responder que é o comportamento de Portugal em relação a Israel na ONU..No ano passado, a ONU aprovou 27 resoluções. Destas, 15 contra Israel. Ora, basta olhar para o mundo em 2022 e qualquer pessoa capaz de um mínimo de razoabilidade vê que algo aqui não faz sentido, percebe que há algo no sistema que não está bem..Há, desde há muito, um pacote de resoluções que faz parte de uma campanha sistemática de discriminação contra Israel nas Nações Unidas. Não existe nenhum pacote semelhante contra qualquer outro país no mundo nem nenhuma resolução que contenha linguagem tão parcial e distorcida..A última delas, aprovada na passada sexta-feira pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, conseguiu ir além da tentativa obscena de ignorar a ligação imemorial da história judaica e cristã aos lugares sagrados de Jerusalém referindo-se ao Monte do Templo apenas e só pelo seu termo islâmico ao acrescentar um novo parágrafo que incumbe o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de um parecer consultivo relativamente ao conflito israelo-palestiniano..Isto é um desastre para todos os que acreditam no processo de paz porque põe em causa os princípios fundamentais do processo político - a solução para o conflito só é possível através de negociações diretas que os palestinianos, uma vez mais, bloqueiam por meio de uma solução unilateral conseguida através de uma instituição multilateral..Esta resolução fará o jogo dos extremistas mas não acrescentará nada a um futuro que se almeja melhor para israelitas e palestinianos. Pelo contrário, vai endurecer, inevitavelmente, as posições de ambos os lados..A maioria das democracias com um ideário semelhante votou contra esta resolução ou, pelo menos, absteve-se. Portugal, surpreendente e infelizmente, votou a favor..Tenho, contudo, a convicção de que, neste ano que agora começa, continuaremos a fortalecer o nosso relacionamento também ao nível multilateral..Sendo países muito semelhantes, sociedades abertas que procuram prosperar e trabalhar em benefício dos seus cidadãos, que estão cientes que o farão melhor se o fizerem em conjunto, julgamos que um olhar de Portugal para estes factos, se não com a mesma gravidade com que o fazemos pelo menos com uma perspectiva semelhante, muito contribuiria para o reforço das nossas relações bilaterais..Termino, desejando a todos um ano de saúde, felicidade e paz..Embaixador de Israel em Portugal