Pergunta a Rúben Amorim vale processo a jornalista. Sindicato fala em censura
Uma pergunta não relacionada com o jogo, durante a flash interview, valeu a uma jornalista um processo disciplinar pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera caso "grave, ilegal e um atentado à liberdade de imprensa" e fez participação ao Ministério Público.
No final do jogo entre Sporting e Desportivo de Chaves, Rita Latas, jornalista da Sport TV, questionou o treinador do Sporting, Rúben Amorim, acerca das críticas de Slimani à forma como fora tratado pelo técnico.
"Uma última pergunta e um pouco à margem do jogo porque é impossível fugir a esse tema, as palavras de Slimani dirigidas a Ruben Amorim. Que comentários lhe merecem o que Slimani disse que, ao que tudo indica, Rúben Amorim não queria que Slimani jogasse porque preferia que Paulinho estivesse no onze inicial?", perguntou.
Rúben Amorim considerou não ser aquele o momento apropriado para responder, mas prometeu fazê-lo imediatamente a seguir, na conferência de imprensa, o que veio, de facto, a acontecer.
"O Conselho de Disciplina instaurou a 30 de agosto de 2022 processo disciplinar por lhe ter sido presente Relatório Oficial de Jogo no qual se fazia referência ao facto de jornalista ter feito, durante a flash interview, pergunta não relacionada com o jogo que acabara de terminar", diz aquele órgão em comunicado, explicando que "está obrigado a sancionar em processo sumário ou a instaurar processo disciplinar quando chegam ao seu conhecimento indícios da prática de ilícito disciplinar".
Diz ainda que "não tem qualquer poder discricionário que lhe permita ignorar factos descritos nos Relatórios Oficiais do Jogo que possam ter relevância disciplinar".
Explica ainda que, de acordo com os regulamentos, "os jornalistas que desempenham as suas funções por ocasião do jogo são agentes desportivos" e que as perguntas das flash interviews devem versar "exclusivamente sobre as ocorrências do jogo".
O organismo avança que, perante o caso, poderia "sancionar de imediato em processo sumário". "O Conselho de Disciplina entendeu, porém, que devia ser instaurado processo disciplinar para que no seu âmbito pudesse, através de uma reflexão mais detida, ser ponderada a necessidade de concordância entre a proteção dos valores desportivos e a proteção da liberdade de expressão", remata.
O Sindicato dos Jornalistas considera situação "grave, ilegal e um atentado à liberdade de imprensa", pelo que anunciou uma participação ao Ministério Público.
"O Sindicato estranha a manifesta falta de sensibilidade democrática revelada pelo CD da FPF, composto por ilustres juristas, e estranha igualmente a manifesta ilegalidade do regulamento das competições organizadas pela Liga Portugal no que a esta matéria diz respeito", diz em comunicado.
"Estamos perante uma forma gravíssima de censura absolutamente proibida no ordenamento jurídico português", considera, defendendo ainda que "esta prática é suscetível de poder constituir um ilícito de natureza criminal como são os atentados à Liberdade de Imprensa". Por isso, anuncia: "irá participar este facto ao Ministério Público para os devidos efeitos".