Crumlin, nos subúrbios de Dublin, é território de durões. Conor McGregor provou isso na pele. Habituado a ser alvo de bullying de rufias maiores, foi uma sova apanhada aos 11 anos que o fez ter a certeza do caminho que queria seguir: as lutas e as artes marciais, das quais anunciou agora retirar-se, aos 30 anos, depois de ter sido a primeira superestrela planetária de MMA (artes marciais mistas)..Uma história de sucesso que destapou também uma personagem excessiva, de verbo e temperamento desbragado, habituado a respirar polémicas no dia-a-dia. Como aquela que surgiu algumas horas depois de anunciar o ponto final na carreira, nesta terça-feira. Segundo avançou o The New York Times, McGregor está a ser investigado por alegada violação, em Dublin, onde terá sido mesmo detido em janeiro na sequência de uma queixa apresentada por uma mulher..De acordo com o jornal norte-americano, o episódio terá ocorrido em dezembro num hotel da capital irlandesa, perto da zona de Crumlin, onde McGregor cresceu. A revelação do caso no dia em que o irlandês anunciou o final de carreira levanta interrogações sobre qual o verdadeiro motivo para o anúncio surpresa do lutador na rede social Twitter. Mas Karen Kessler, porta-voz de McGregor, disse à ESPN que qualquer relação entre os dois factos "é absolutamente falsa"..Do rendimento social à lista da Forbes.Para já, os adeptos das artes marciais mistas digerem o final de carreira do homem que se tornou o primeiro grande ícone global deste desporto. O irlandês fez história na modalidade, ajudou a tornar a UFC (Ultimate Fight Championship) uma das organizações mais rentáveis dos desportos de combate e sai agora de cena como um dos atletas mais bem pagos do mundo, com um valor anual estimado em cem milhões de dólares - o que lhe valia o 12.º lugar na lista dos desportistas mais ricos organizada pela revista Forbes em 2018..Um sucesso seguramente difícil de projetar por quem ainda em abril de 2013, antes do seu primeiro combate na UFC, esperava na fila dos correios, em Tower Road, para levantar o cheque de quase 200 euros de rendimento social. Para trás tinham ficado já os biscates como canalizador, que o pai lhe arranjara para sobreviver enquanto ele projetava fazer carreira no mundo amador das lutas em Dublin. Mas o irlandês avisou nos correios que aquele seria o último cheque..Até ao dia em que se estreou na UFC, nesse mês de abril de 2013, em Estocolmo, McGregor tinha construído um currículo de 12 vitórias e duas derrotas em combates sobretudo locais. Mas foi quando saltou para o octógono sueco, para defrontar o americano Marcus Brimage, que o irlandês começou a construir a sua lenda como o primeiro grande nome mediático da história das artes marciais mistas..O cheque de 60 mil dólares pela vitória na estreia (KO ao primeiro assalto) permitiu-lhe não ter de voltar à fila do rendimento social no mês seguinte. O sucesso foi vertiginoso, os cheques começaram a ter cada vez mais zeros e pouco depois, em 2015, o autointitulado "Notorious" chegava ao topo do mundo da UFC, com o primeiro dos três cinturões conquistados na competição - onde foi o primeiro e único até agora a deter, simultaneamente, os títulos de duas categorias de peso diferentes..Longa lista de polémicas.Nessa altura, McGregor era já o ícone deste desporto, um irlandês tão feroz no octógono (detém o recorde de vitória mais rápida na disputa de um título, quando precisou de apenas 13 segundos para derrotar José Aldo, em dezembro de 2015) como polémico fora dele, rápido nos golpes e nas palavras..Ficaram célebres, além dos combates, as frases e as poses provocatórias nas conferências de imprensa. "I'm not here to take part, I'm here to take over" (não estou aqui para participar, mas para dominar), avisava logo à terceira vitória no UFC, sobre Diego Brandão..Em 2015, o homem que praticamente não diz uma frase sem a palavra fuck pelo meio resolveu utilizar o vocábulo para protestar contra a rainha de Inglaterra. No mesmo ano, enviou uma mensagem pelas redes sociais a um adversário alemão, Dennis Silver, apelidando-o de nazi. E antes de defrontar o brasileiro Aldo, em dezembro desse ano, endereçou-lhe o seguinte recado: "Eu sou o dono do Rio de Janeiro. Em tempos antigos, eu invadiria a favela dele no meu cavalo e limpava toda a gente. Mas são outros tempos agora, por isso vou limitar-me a limpar-lhe o rabo.".Mais? Na conferência de imprensa antes de um combate com Nate Diaz, envolveu-se numa altercação física com a entourage do adversário e de repente tudo o que estava no palco começou a ir pelos ares. No evento promocional de sua luta no UFC 205, em novembro de 2016, contra Eddie Alvarez, então campeão dos pesos-leves, McGregor simplesmente roubou o cinturão do rival e o combate quase começou logo aí..A lista é longa e inclui altercações com elementos da máfia irlandesa num pub de Dublin e também tiradas de teor racista antes do hiperbadalado combate de boxe contra o invicto ex-campeão de pugilismo Floyd Mayweather, que rendeu a McGregor cem milhões de dólares apesar da derrota..Mas nenhuma polémica foi tão grave (até agora) quanto a que protagonizou em abril de 2018, quando invadiu a garagem do Madison Square Garden, em Nova Iorque, incontrolável de raiva, e atirou vários objetos metálicos contra o autocarro onde seguia o russo Khabib Nurmagomedov, o adversário contra o qual haveria de terminar a história de sucesso de Conor McGregor na UFC..O episódio valeu-lhe um mandado de prisão e o cumprimento de cinco dias de serviço comunitário e incendiou ainda mais o ambiente em redor de um confronto entre os dois, que acabou por ter lugar em outubro passado, com o russo Khabib Nurmagomedov a dominar McGregor e a tirar-lhe o título de pesos-leves, num combate que terminou com uma megapancadaria a envolver elementos das duas equipas, além dos próprios lutadores..Desta vez é a sério?.Agora, cinco meses depois, e numa altura em que se acumulavam notícias sobre um possível regresso de McGregor às lutas do UFC no próximo verão, o irlandês surpreendeu com um anúncio no Twitter.."Olá, rapazes, um anúncio rápido. Decidi retirar-me do desporto a que comummente chamam artes marciais mistas. Desejo a todos os meus ex-colegas felicidades na competição. Agora vou juntar-me a outros lutadores nesta aventura, aos que já estão retirados", escreveu o lutador irlandês, de 30 anos, que resolveu colocar um ponto final na carreira, sem mais explicações..Falta saber se desta vez a retirada é mesmo a sério, ou apenas mais uma ameaça, como aconteceu em 2016, pouco tempo depois de uma derrota perante Nate Diaz. "Decidi reformar-me jovem", escreveu então, também no Twitter..Talvez McGregor esteja agora a pensar dedicar-se à bebida: a sua marca de whisky Proper No. Twelve, lançada em setembro passado, esgotou a produção em duas semanas, colocada à venda em lojas na Irlanda e nos EUA..Mas, para já, há uma acusação de violação a ensombrar a reforma.
Crumlin, nos subúrbios de Dublin, é território de durões. Conor McGregor provou isso na pele. Habituado a ser alvo de bullying de rufias maiores, foi uma sova apanhada aos 11 anos que o fez ter a certeza do caminho que queria seguir: as lutas e as artes marciais, das quais anunciou agora retirar-se, aos 30 anos, depois de ter sido a primeira superestrela planetária de MMA (artes marciais mistas)..Uma história de sucesso que destapou também uma personagem excessiva, de verbo e temperamento desbragado, habituado a respirar polémicas no dia-a-dia. Como aquela que surgiu algumas horas depois de anunciar o ponto final na carreira, nesta terça-feira. Segundo avançou o The New York Times, McGregor está a ser investigado por alegada violação, em Dublin, onde terá sido mesmo detido em janeiro na sequência de uma queixa apresentada por uma mulher..De acordo com o jornal norte-americano, o episódio terá ocorrido em dezembro num hotel da capital irlandesa, perto da zona de Crumlin, onde McGregor cresceu. A revelação do caso no dia em que o irlandês anunciou o final de carreira levanta interrogações sobre qual o verdadeiro motivo para o anúncio surpresa do lutador na rede social Twitter. Mas Karen Kessler, porta-voz de McGregor, disse à ESPN que qualquer relação entre os dois factos "é absolutamente falsa"..Do rendimento social à lista da Forbes.Para já, os adeptos das artes marciais mistas digerem o final de carreira do homem que se tornou o primeiro grande ícone global deste desporto. O irlandês fez história na modalidade, ajudou a tornar a UFC (Ultimate Fight Championship) uma das organizações mais rentáveis dos desportos de combate e sai agora de cena como um dos atletas mais bem pagos do mundo, com um valor anual estimado em cem milhões de dólares - o que lhe valia o 12.º lugar na lista dos desportistas mais ricos organizada pela revista Forbes em 2018..Um sucesso seguramente difícil de projetar por quem ainda em abril de 2013, antes do seu primeiro combate na UFC, esperava na fila dos correios, em Tower Road, para levantar o cheque de quase 200 euros de rendimento social. Para trás tinham ficado já os biscates como canalizador, que o pai lhe arranjara para sobreviver enquanto ele projetava fazer carreira no mundo amador das lutas em Dublin. Mas o irlandês avisou nos correios que aquele seria o último cheque..Até ao dia em que se estreou na UFC, nesse mês de abril de 2013, em Estocolmo, McGregor tinha construído um currículo de 12 vitórias e duas derrotas em combates sobretudo locais. Mas foi quando saltou para o octógono sueco, para defrontar o americano Marcus Brimage, que o irlandês começou a construir a sua lenda como o primeiro grande nome mediático da história das artes marciais mistas..O cheque de 60 mil dólares pela vitória na estreia (KO ao primeiro assalto) permitiu-lhe não ter de voltar à fila do rendimento social no mês seguinte. O sucesso foi vertiginoso, os cheques começaram a ter cada vez mais zeros e pouco depois, em 2015, o autointitulado "Notorious" chegava ao topo do mundo da UFC, com o primeiro dos três cinturões conquistados na competição - onde foi o primeiro e único até agora a deter, simultaneamente, os títulos de duas categorias de peso diferentes..Longa lista de polémicas.Nessa altura, McGregor era já o ícone deste desporto, um irlandês tão feroz no octógono (detém o recorde de vitória mais rápida na disputa de um título, quando precisou de apenas 13 segundos para derrotar José Aldo, em dezembro de 2015) como polémico fora dele, rápido nos golpes e nas palavras..Ficaram célebres, além dos combates, as frases e as poses provocatórias nas conferências de imprensa. "I'm not here to take part, I'm here to take over" (não estou aqui para participar, mas para dominar), avisava logo à terceira vitória no UFC, sobre Diego Brandão..Em 2015, o homem que praticamente não diz uma frase sem a palavra fuck pelo meio resolveu utilizar o vocábulo para protestar contra a rainha de Inglaterra. No mesmo ano, enviou uma mensagem pelas redes sociais a um adversário alemão, Dennis Silver, apelidando-o de nazi. E antes de defrontar o brasileiro Aldo, em dezembro desse ano, endereçou-lhe o seguinte recado: "Eu sou o dono do Rio de Janeiro. Em tempos antigos, eu invadiria a favela dele no meu cavalo e limpava toda a gente. Mas são outros tempos agora, por isso vou limitar-me a limpar-lhe o rabo.".Mais? Na conferência de imprensa antes de um combate com Nate Diaz, envolveu-se numa altercação física com a entourage do adversário e de repente tudo o que estava no palco começou a ir pelos ares. No evento promocional de sua luta no UFC 205, em novembro de 2016, contra Eddie Alvarez, então campeão dos pesos-leves, McGregor simplesmente roubou o cinturão do rival e o combate quase começou logo aí..A lista é longa e inclui altercações com elementos da máfia irlandesa num pub de Dublin e também tiradas de teor racista antes do hiperbadalado combate de boxe contra o invicto ex-campeão de pugilismo Floyd Mayweather, que rendeu a McGregor cem milhões de dólares apesar da derrota..Mas nenhuma polémica foi tão grave (até agora) quanto a que protagonizou em abril de 2018, quando invadiu a garagem do Madison Square Garden, em Nova Iorque, incontrolável de raiva, e atirou vários objetos metálicos contra o autocarro onde seguia o russo Khabib Nurmagomedov, o adversário contra o qual haveria de terminar a história de sucesso de Conor McGregor na UFC..O episódio valeu-lhe um mandado de prisão e o cumprimento de cinco dias de serviço comunitário e incendiou ainda mais o ambiente em redor de um confronto entre os dois, que acabou por ter lugar em outubro passado, com o russo Khabib Nurmagomedov a dominar McGregor e a tirar-lhe o título de pesos-leves, num combate que terminou com uma megapancadaria a envolver elementos das duas equipas, além dos próprios lutadores..Desta vez é a sério?.Agora, cinco meses depois, e numa altura em que se acumulavam notícias sobre um possível regresso de McGregor às lutas do UFC no próximo verão, o irlandês surpreendeu com um anúncio no Twitter.."Olá, rapazes, um anúncio rápido. Decidi retirar-me do desporto a que comummente chamam artes marciais mistas. Desejo a todos os meus ex-colegas felicidades na competição. Agora vou juntar-me a outros lutadores nesta aventura, aos que já estão retirados", escreveu o lutador irlandês, de 30 anos, que resolveu colocar um ponto final na carreira, sem mais explicações..Falta saber se desta vez a retirada é mesmo a sério, ou apenas mais uma ameaça, como aconteceu em 2016, pouco tempo depois de uma derrota perante Nate Diaz. "Decidi reformar-me jovem", escreveu então, também no Twitter..Talvez McGregor esteja agora a pensar dedicar-se à bebida: a sua marca de whisky Proper No. Twelve, lançada em setembro passado, esgotou a produção em duas semanas, colocada à venda em lojas na Irlanda e nos EUA..Mas, para já, há uma acusação de violação a ensombrar a reforma.