Congresso Nacional brasileiro. Maia eleito, Renan quase
Rodrigo Maia, deputado do DEM, de direita, apoiado pelo partido de Jair Bolsonaro, o PSL, também de direita, mas não necessariamente pelo governo, foi reeleito presidente da Câmara dos Deputados do Brasil com 334 dos 512 votos. Na eleição para o Senado Federal, houve gritos, insultos, tumultos e adiamento da votação para hoje, com Renan Calheiros (MDB), o principal favorito, no centro das discussões.
O Congresso Nacional do Brasil, poder legislativo, é composto por duas câmaras - a alta, o Senado, com 81 senadores, e a baixa, a Câmara dos Deputados, com 513 parlamentares.
Eleito em 2016, na altura como substituto do então presidente Eduardo Cunha, detido por corrupção na Operação Lava-Jato, Maia, deputado de 48 anos, move-se com destreza da esquerda à direita do Congresso, ao ponto da sua eleição ser considerada um mal menor por todos os campos. "A minha relação com o presidente Bolsonaro será sempre de muito diálogo e de muita articulação para aprovar as pautas necessárias à melhoria da economia do país", disse em entrevista à Globonews, após a eleição, com a reforma da previdência social, a prioridade do governo, em mente.
Maia contou com o apoio explícito do presidente do PSL, Rodrigo Bívar, mas sofreu oposição nos bastidores de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa civil e encarregado da relação entre poderes executivo e legislativo. "Oposição dele? Não acredito", ironizou o deputado. "Como é que um governo forte, popular, recém eleito seria então derrotado por um só parlamentar? Não, ou ele não se moveu nos bastidores ou se se moveu foi um trabalho mal feito".
O PT, que chegou a equacionar apoiar Maia mas recuou após saber da decisão do PSL no mesmo sentido, também foi alvo da ironia do eleito. "A Gleisi Hoffmann [presidente do PT] disse que não me apoiaria porque o PSL apoiava? Não soube, é verdade, não soube, tudo o que ela diz vem em notícias pequenas de jornal e só tenho tempo de ler as manchetes".
Na tentativa de isolar os rivais Lorenzoni e Hoffmann, Maia aproveitou para elogiar um membro do governo de Bolsonaro - "o ministro [da secretaria da presidência] Gustavo Bebianno foi sempre muito gentil comigo" - e quadros destacados do PT - "durante a minha campanha, os governadores Camilo Santana [Ceará] e Wellington Dias [Piauí], receberam-me com grande simpatia e ainda me deram duas aulas de gestão pública".
A eleição na Câmara dos Deputados, além de importante porque o seu presidente é a terceira figura na hierarquia do estado, marca a agenda de votações do Congresso e aceita ou arquiva pedidos de impeachment presidencial, é interessante para os partidos porque envolve 682 cargos públicos de indicação dos membros da mesa, com salários que podem chegar a cinco mil euros.
A larga distância do vencedor, ficaram Fábio Ramalho, do MDB, partido de centro-direita Michel Temer, com 66 votos, e Marcelo Freixo, do PSOL, de extrema-esquerda, com 50 votos, menos do que o número de deputados do PT, que o apoiava. Como a eleição é por voto secreto e a disciplina partidária no Brasil é elástica, é natural que parte dos "petistas" tenha acabado por votar em Maia. Houve mais quatro candidatos com votações inexpressivas.
Curiosamente, na última eleição, o então deputado Bolsonaro concorreu à presidência da Câmara - obteve quatro votos, menos do que os brancos, e ficou em sexto lugar. Já concorrera em 2005 (obtendo dois votos), em 2006 (quando não somou sequer um voto) e em 2011 (conseguiu nove votos).
SENADO ADIADO
Se a eleição na Câmara dos Deputados, decorreu sem problemas e no horário previsto, na votação para presidente do Senado Federal, a câmara alta, houve tumultos. Renan Calheiros que na véspera havia ganho as "primárias" dentro do seu partido, o MDB, à rival Simone Tebet, tornando-se favorito a ocupar o cargo pela quinta vez, foi alvo de uma manobra dos rivais.
O candidato Davi Alcolumbre, do DEM, que conta com o apoio do ministro Onyx Lorenzoni e preside interinamente à casa, fez aprovar a votação aberta, e não secreta. A iniciativa é considerada prejudicial a Calheiros, que conta com muitos apoios mas nem todos às claras - defendê-lo abertamente é arriscado politicamente, uma vez que tem 18 inquéritos por corrupção a correr nos tribunais e há manifestações populares contra o seu nome.
A senadora Katia Abreu, do PDT, de centro-esquerda, e apoiante de Calheiros, subiu então à tribuna, desviou o microfone de Alcolumbre e pegou a pasta com o regimento interno. Disse então que seria ela a conduzir a sessão a partir dali, uma vez que o até então presidente da sessão não poderia ser árbitro e jogador em simultâneo.
Após horas de tumulto, com Calheiros a acusar o adversário de longa data Tasso Jereissati (PSDB) de estar por trás da manobra, chamá-lo de "coronel e cangaceiro" e desafiá-lo "para "a porrada", Cid Gomes, colega de Kátia do PDT e irmão do candidato presidencial Ciro Gomes, sugeriu adiar a votação para hoje. Durante o adiamento, o presidente do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli estabeleceu a votação secreta, como Calheiros pretendia. Às 13 horas de Lisboa, inicia-se então a votação.
em São Paulo