Congresso do PS. Ocupação do espaço vazio
Na política, e não só, não se podem deixar espaços vazios, sob pena de serem ocupados pela concorrência. O PSD deixou em aberto uma arena política importante quando deixou de realizar a Festa do Pontal, que contava com cerca de 40 anos de história. Rui Rio optou por um espaço pequeno, em Faro (Teatro das Figuras), para uma tarde de reflexão sobre as eleições autárquicas. O PS escolheu um palco algarvio para absorver rápida e estrategicamente esse espaço, marcando o final do verão e a rentrée política em Portimão.
Os socialistas estão reunidos desde ontem, com António Costa a discursar nos dois dias. Além das metas e desafios para o PS, houve tempo para uma homenagem a Jorge Coelho, com transmissão de uma mensagem de António Guterres. O antigo secretário-geral do PS elogiou "o dirigente partidário mobilizador", "o estadista com visão" e o "caráter" de Jorge Coelho. O partido aplaudiu ainda Jorge Sampaio, antigo Presidente da República, internado por motivos de saúde.
Olhando o presente e o futuro, Costa mostrou-se confiante no papel de secretário-geral de um partido cuja popularidade se mantém alta, como indicam as sondagens recentes. Dominou o palco, qual animal político. O líder e primeiro-ministro cavalgou os feitos da vacinação, que dá "esperança de manter a pandemia sob controlo". Reafirmou a ambição de "voltar a convergir com a UE e os países mais desenvolvidos", respondendo às vozes (incluindo internas) que o criticam por estar confortavelmente instalado no poder: "Não nos contentamos com mais do mesmo", afiançou.
Já a preparar terreno para as eleições autárquicas, convocou os militantes: "Este não é o tempo de estarmos ausentes. Não é o tempo de desanimarmos, é de nos animarmos, arregaçarmos as mangas e estarmos todos presentes." O ato eleitoral será a 26 de setembro e Costa crê que o partido vai conseguir construir uma "nova vitória".
Perante mais esta demonstração de força, quem não pode estar ausente é a oposição. O PS não está a perder gás, como muitos vaticinavam. Para continuar a cavalgar a popularidade, o seu líder invocou o combate à corrupção, ao abandono escolar e às alterações climáticas, assim como o aumento da segurança e do investimento no interior do país. Mas o verão ainda não acabou e os portugueses cá estarão para cobrar estas palavras. Outras bandeiras foram içadas: a precariedade laboral e o direito à habitação. Os eleitores mais velhos não ficaram de fora e a aposta na rede de cuidados continuados foi prometida.
Em Portimão, coube a Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, apresentar a moção política de orientação global do secretário-geral. Costa deu palco a uma voz feminina e não foi apenas para cumprir as quotas. A governante é uma das quatro personalidades apontadas para a sucessão no partido e António Costa habilmente sentou na mesa principal todos os aspirantes à liderança.
O PSD fez marcação de território no Algarve, mas o PS pintou a laranja o cenário do congresso, sob o lema "caminho certo". Do ponto de vista cénico, é um claro piscar de olho ao centrão. Dentro de um mês, os portugueses decidirão qual o melhor trilho a percorrer.
Diretora do Diário de Notícias