Conferência Episcopal lamenta "atentado contra privacidade" da reportagem da TVI
Quinta-feira à noite. Dia 9 de janeiro. A TVI emite uma reportagem realizada com uma câmara oculta durante uma reunião de um grupo do qual faz parte a psicóloga Maria José Vilaça em que compara a homossexualidade a uma perturbação psicológica ou a "surto psicótico". A psicóloga acaba por abandonar o debate que depois deveria ser levado a cabo pela jornalista Ana Leal. O outro psicólogo clínico presente também.
A paróquia da Nossa Senhora do Carmo estava esta sexta-feira em choque. Em choque pela reportagem, "não é justa para o trabalho que aqui se faz", diz-nos uma das paroquianas que se dirigia à missa das 18.30, em choque porque "não sei se é verdade o que ali mostraram. Se de facto este grupo é secreto e se funciona desta maneira"", questionava outra.
O prior, padre Duarte Sousa, de 33 anos, há três naquela paróquia disse ao DN que não iria prestar declarações sobre o assunto. Pelo menos, por agora. Mas a Conferência Episcopal (CE) já tomou posição.
Em resposta enviada ao DN, depois de ter sido questionado o secretário da CE, padre Manuel Barbosa, sobre se tinha conhecimento deste grupo, de como funcionava, se a igreja iria avaliar as afirmações que tinham sido registadas pela reportagem da TVI, o mesmo referiu: "Sobre a reportagem da TVI a que se refere apenas duas notas: lamentamos a forma como foi feita a reportagem com captação oculta de imagem e som, atentando contra a proteção de imagem e a privacidade das pessoas. Cabe às pessoas envolvidas tomarem posição, com as quais estamos solidários quanto ao tratamento abusivo de que foram alvo."
Nada mais a dizer sobre o assunto. Contactado também o patriarcado de Lisboa, já que se trata de uma paróquia desta diocese, a resposta remeteu-nos para o contacto com a CE, já que procurávamos uma tomada de posição oficial.
O choque de uns paroquianos, a tristeza de outros marcava o ambiente que se sentia sexta-feira à noite na igreja do Alto do Lumiar. A assistir à missa das 18.30, celebrada pelo prior Duarte Sousa, estava a psicóloga Maria José Vilaça, que era uma das visadas na reportagem da TVI, e que não quis prestar declarações ao DN sobre o assunto.
A Ordem dos Psicólogos vai averiguar disciplinarmente as declarações feitas pela profissional, que à jornalista Ana leal, chegou a afirmar que a sua participação naquele grupo não era como psicóloga, não dava consultas, era como orientadora espiritual. Mas a ser analisada pela Ordem estão declarações proferidas pela psicóloga disse à mulher, e a certa altura assumiu-se como homossexual publicamente e, de repente, passou-lhe tudo e voltou para casa."
Ao final do dia, a Rádio Renascença avançava também com a noticia de que o grupo visado, do qual farão parte psicólogos, psiquiatras e dois padres do Porto, estariam a ponderar levar a reportagem da TVI até à justiça, pela forma como tinha sido realizada.
Oficialmente, a Igreja manifestou-se solidária com os visados na reportagem pela devasse da sua privacidade e imagem, mas não se manifestou sobre o conteúdo da reportagem, sobre as declarações que associam a homossexualidade a uma perturbação psicológica a um surto psicótico.
Na homilia do dia, os paroquianos da Nossa Senhora do Carmo ouviam o padre Duarte a citar as leituras do dia, Carta de São João e o Evangelho segundo São Lucas, em que Jesus cura um leproso, purificando-o, para os lembrar de que "somos instrumentos de Deus, para fazermos o Bem e dizermos a Verdade."