Conferência de negacionistas do clima no Porto. "Universidade está a alugar a sua credibilidade"
"É lamentável que a Universidade do Porto apoie uma coisa destas. Acho que deviam recuar ou pelo menos divulgar um comunicado da faculdade a dizer que se demarca da conferência". As palavras são do bioquímico David Marçal, que não concorda com esta iniciativa e foi um dos primeiros cientistas a criticar a realização no Porto da conferência "Basic Science of Climate Change", organizada pelo Independent Committee on Geoethics (IGC) com o objetivo de "(des)construir algumas ideias sobre alterações climáticas".
Autor de vários livros de divulgação científica e de esclarecimento sobre pseudociência, David Marçal considera que as "universidades que dão espaço a estas iniciativas estão a alugar, ou mesmo a oferecer, caso não existam contrapartidas financeiras, a sua credibilidade".
E é essa credibilidade que o negacionistas das alterações climáticas procuram, frisa. "As pseudociências tentam fazer conferências em universidades. Assim que o conseguem estas são consideradas credíveis. As universidades deviam ter mais atenção a estas coisas. Não é só alugar salas é também alugar a sua credibilidade e as universidades não se podem dar a esse luxo", salienta.
A conferência que decorre entre sexta-feira e sábado tem como um dos objetivos "criar confusão", defende, lembrando que o que os negacionistas querem é "contrapor toda a ciência publicada. Mas a ciência é escrutinada pelos pares. E não há uma segunda corrente sobre alterações climáticas".
David Marçal defende que os organizadores do evento pretendem criar uma "controvérsia social. Há uma longa história de lançar confusão nas alterações climáticas, procurando criar controvérsia. Mas os factos fundamentais das alterações climáticas são indiscutíveis do ponto de vista científico".
E lembra que os oradores são "pessoas que em vez de provas apresentam ideias, quadros e currículos impressionantes para convencer as pessoas".