Está na fase final o concurso público internacional para escolher quem vai construir a nova "estrela" da Marinha: um navio multifunções/multipropósito, designação dada a uma pioneira plataforma naval com capacidade de projetar múltiplas capacidades, essencialmente robóticas e sistemas não-tripulados (drones aéreos, terrestres e submarinos).."É um projeto muito ambicioso, um dos mais estruturantes e desafiantes da Marinha", admitiu o contra-almirante Jorge Pires numa apresentação pública promovida pela Confraria Marítima de Portugal/Liga Naval Portuguesa, esta semana, em Oeiras..Perante uma plateia que não desviava os olhos do ecrã, onde se destacavam alguns oficiais da Armada, empresários e outros interessados na indústria naval, Jorge Pires, diretor de Navios da Marinha portuguesa, disse que o concurso público internacional tinha sido lançado em junho passado, "com um caderno de encargos de 10 volumes e mais de mil páginas", estando agora "o concorrente a preparar a sua proposta"..Segundo este responsável, a previsão é de que, "até final do mês" (novembro), "a proposta seja entregue" e que "até ao final do ano o contrato seja assinado". De acordo com o calendário que mostrou neste encontro, a construção desta plataforma deverá decorrer entre 2023 e 2025, entregue no final de 2025, sendo 2026 o "ano das garantias"..Ao DN, o porta-voz do Chefe de Estado-Maior da Armada, Gouveia e Melo, confirmou que "neste momento já só há um concorrente qualificado" e que "corre o prazo para a apresentação de proposta até ao final deste mês"..Recorde-se que este é um projeto que a Marinha candidatou ao financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), orçado em cerca de 100 milhões de euros..É um navio científico, que será uma espécie de base em alto-mar, dotado de laboratórios científicos, alojamento para 90 pessoas em permanência e outras 100 se necessário, por exemplo numa situação de evacuação de emergência, rampas para embarque e desembarque de viaturas, heliporto, pistas para drones aéreos, uma baia para os drones submarinos e lanchas, gruas diversas para içar material de investigação - uma "plataforma de projeção de capacidades", como precisou Jorge Pires..Na sua candidatura ao PRR, a Marinha sublinhou que "este navio, idealizado sob um novo conceito de operação, não tem requisitos militares e não é armado. As suas principais funções são a monitorização ambiental, nomeadamente no combate à poluição marítima, a fiscalização da pesca, a preservação dos recursos, o desenvolvimento do conhecimento e da investigação no âmbito hidrográfico e científico"..Segundo esse texto, "todos os seus drones não possuem armamento e os sensores utilizados servem para monitorizar, vigiar e controlar os espaços marítimos sob jurisdição nacional"..O navio, foi salientado, "servirá ainda para o eventual transporte e evacuação de cidadãos em caso de necessidade. Com o conceito de duplo uso, e tratando-se de um navio tecnologicamente inovador e disruptivo, irá permitir testar soluções tecnológicas na área robotizada, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologia nacional"..Afiançou o contra-almirante que este projeto representa um "estímulo para toda a comunidade ligada ao mar, indústria e academia", com "desafios muito interessantes e oportunidades tremendas"..E frisou que se pretende "envolver ao máximo a indústria nacional", reforçando que "não devemos, como país, desperdiçar esta oportunidade"..Em relação a isso, surgiram críticas de alguns dos presentes, já na fase de perguntas e respostas.."A Marinha não soube promover este projeto junto da sociedade, da academia e da indústria", lamentou um dos intervenientes, que não se identificou, apresentando-se como alguém com ligações de negócios ao setor..Questionou com quem tinham sido "discutidos os requisitos para o concurso", por não "conhecer ninguém que tenha sido contactado, incluindo a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com quem a Marinha até tem uma parceria há vários anos"..Guilherme Beleza Vaz, empresário da indústria naval, que trabalhou com a Marinha da Holanda, também espera "ainda poder participar neste projeto" e uma capitão de mar-e-guerra apelou a que fosse feita uma "apresentação interna" deste projeto", por acreditar que seja "um grande estímulo"..O diretor de Navios reconheceu falha na divulgação, justificando com os "prazos apertados" da candidatura. "O tempo não dá para tudo e os recursos são limitados", afiançou.