'Concordamos em não concordar'. O "enorme fosso" entre Costa e Cristas

Líder do CDS dramatizou cenário de uma Assembleia da República "dois terços à esquerda". Costa acusa CDS de propor um "brutal desequilíbrio das contas públicas".
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Foi um debate de opostos. E Assunção Cristas e António Costa começaram logo a dizê-lo, recusando qualquer cenário de entendimento entre os dois partidos. Uma clivagem que se manteve do início ao fim, com a líder centrista a dramatizar o cenário de um Parlamento "dois terços à esquerda" e a apresentar o CDS como a alternativa de voto para o eleitorado de centro-direita.

António Costa sublinhou-o logo no início do debate. "Entre o PS e o CDS há uma enorme diferença, um enorme fosso, sobre a forma como vemos a sociedade", afirmou o líder socialista, antes de apontar baterias a três medidas do programa do CDS. A começar pela proposta que permite aos jovens que não tenham atingido a média de entrada na faculdade pagar para ingressar no ensino superior. "Quem não entra na universidade pode comprar a entrada, pagando", afirmou Costa, que criticou também a primazia dada pelos centristas ao "direito de propriedade" nas políticas de habitação, assim como a proposta que recupera o coeficiente familiar, propondo que a "dedução seja um percentual de rendimento" - "Uma criança de uma família rica vale mais e deduz mais, uma criança de uma família remediada vale menos e deduz menos".

Cristas até concordou com o oponente num ponto: "Há um fosso grande". E acabou aí a concordância, com a líder do CDS a acusar o Governo de de ter criado uma carga fiscal "nunca vista em Portugal", que deixa "asfixiadas" famílias e empresas, e que corre a par dos "piores serviços públicos de sempre". "Estamos nos antípodas", reiterou, justificando então as medidas enunciadas por Costa: "Sabe qual foi a média mais elevada em Portugal? 18,8, em engenharia espacial. O Rui teve 18,6 e não entrou. Há 17 vagas reservadas para alunos estrangeiros pagando uma propina superior, a minha pergunta é: estamos a restringir ou a alargar direitos? Estamos a alargar".

"Está a subverter os critérios", contrapôs Costa: "Quem tem dinheiro para pagar a vaga não precisa de ter nota para entrar na universidade". E as universidades privadas, retorquiu Cristas, que acrescentaria ainda que "quem entra para o ensino público são os filhos das melhores famílias".

Costa voltou ainda à habitação para apontar a ex-ministra como a "autora de uma lei das rendas que liberalizou sem regras o mercado de arrendamento e que criou uma onda de despejos e especulação". "Grande parte desta legislatura foi a conseguir dar garantias às vítimas da sua lei", atirou. "Não tem noção do número de despejos, são 1,3% e 90% são por falta de pagamento", retorquiu a presidente centrista, falando numa lei "uma equilibrada que protegeu os idosos".

O partido despesista e o partido das contas certas. Quem é quem?

O debate passou à questão fiscal e, se Costa garantiu que na próxima legislatura não haverá aumento de impostos com o PS no Governo, Cristas defendeu que não é isso que vê nas propostas dos socialistas para os próximos quatro anos. "O que vejo no programa do PS é a possibilidade de agravamento dos impostos", face ao cenário de "englobar rendimentos de capital ou rendimentos prediais". Na resposta, Costa reafirmou que não e acusou o CDS de avançar com um cenário irrealista, uma redução de IRS e IRC que "conduziria a um brutal desequilíbrio das contas públicas", com uma "quebra de 5200 milhões de euros de receita".

"Baixar em 15% o IRS, em média, não compromete em nada as contas públicas", assegurou Assunção Cristas, defendendo que há uma "folga orçamental e é justo que seja usada para baixar impostos".

Questionada sobre o seu futuro à frente do CDS, Assunção Cristas disse não estar preocupada com a sua liderança, mas com o país. E, olhando diretamente para a câmara, dirigiu-se aos eleitores de centro-direita para advertir que podem acordar no dia 7 de outubro com o "parlamento dois terços à esquerda". Contra esse cenário, acrescentou, há um antídoto: o voto no CDS.

Na sequência, o líder do PS disse esperar que os portugueses possam acordar "tranquilos" a 7 de outubro, "sem receio de entrar em aventuras que acabem num enorme aumento de impostos ou das contas públicas". Num momento final a evocar as acesas - e por vezes azedas - discussões nos debates quinzenais, o primeiro-ministro acabou o debate dizendo que os portugueses sabem que PS é o "partido do bom senso". Ouviu-se ainda Assunção Cristas: "E também sabem que António Costa sacrifica tudo à sua permanência no governo".

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