Comunistas rejuvenescem Marx e Lenine à procura de votos

Para as legislativas de setembro, partido aposta em campanha inovadora. Quer mudar imagem e chegar ao eleitorado jovem.
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O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) está a apostar numa campanha de cariz inesperado para reforçar a representação parlamentar nas legislativas de 18 de setembro. Atualmente, segunda força política com 19,19% de votos e 92 deputados para os 49,32% de votos e os 238 eleitos do Rússia Unida (o partido de Vladimir Putin), os comunistas apresentam uma série de cartazes em que os históricos Marx, Lenine e Estaline são modernizados, designadamente o segundo, que surge agora como um jovem de ar desempoeirado e atraente enquanto o primeiro e o segundo, mais modestamente, se deixam tentar por tendências e objetos na moda.

Numa tentativa de reinventar a frase de Lenine em que este proclama o comunismo como "juventude do mundo", o PCFR apresenta-o de calças de ganga, ténis e acessórios, naturalmente vermelhos. O objetivo é ultrapassar a imagem associada ao partido como organização de nostálgicos, de reformados e pensionistas, que nasceram e viveram sob o regime soviético.

O autor dos cartazes e conhecido pintor, Igor Petrygin-Rodionov, explica que pretendeu "rejuvenescer" Lenine, mostrando-o como um homem na força da idade, atraente e atlético, além de inteligente. "Ele era uma pessoa com carisma e energia, inclusive sexual. Por isso, criei uma imagem de alguém novo, sensato, inteligente, com carácter. Talvez até um símbolo sexual", explicou em finais de maio à publicação russa L!FE. O que não o impediu de manter, ainda que atualizando, a representação visual mais associada ao fundador da União Soviética, mostrando-o como uma pessoa idosa aplicando-se com um computador portátil sob a legenda "Vovô Lenine". Com esta representação, o PCFR visa, segundo o sexólogo Eugene Kulgavchuk, citado pela L!FE, atrair o eleitorado feminino e de meia-idade.

"Símbolos compreensíveis"

Mas a finalidade da campanha, segundo o secretário permanente do comité central, Vadim Solovyov, é a de chegar ao eleitorado pouco ou nada familiarizado com o dirigente bolchevista que chegou ao poder em 1917. Segundo Solovyov, ouvido pela Russia Today, a melhor forma de o fazer é de associar as figuras históricas do comunismo "a símbolos compreensíveis" para as novas gerações.

Outro cartaz, não representado, mostra um Karl Marx, de Capital debaixo do braço, com a frase do filme Exterminador Implacável : "I"ll be back!" - "Voltarei!"

A propaganda associada a representações visuais sempre tiveram lugar central na propaganda comunista, embora surpreenda o carácter inesperado e até provocador, mas em linha com parte da produção artística de Petrygin-Rodionov, que cultiva na sua obra a crítica e o comentário político, por exemplo, denunciando a manipulação de eleições pelo presidente Vladimir Putin ou um elogio a Lenine, com este a surgir representado ao lado da seguinte frase: "Querem viver sem crises? Perguntem-me como!" Em paralelo, Petrygin-Rodionov trabalha também as paisagens e as naturezas mortas segundo o modelo da pintura clássica russa.

A campanha do PCFR para as legislativas de setembro coincide com a recuperação da reputação de Estaline, que dirigiu a União Soviética entre 1922 e 1953. Uma sondagem realizada em dezembro de 2015 pelo Centro Levada, uma organização independente e conceituada, revelou isso mesmo, em particular quanto às opções que tomou em diferentes momentos. Em contrapartida, a herança do estalinismo continua a ser olhada com reserva.

Estima-se que no período em que Estaline exerceu o poder morreram, pelo menos, 20 milhões de pessoas nos campos de concentração soviéticos, vítimas de perseguição política e também devido a fomes recorrentes, deportações e execuções. A primeira denúncia desta situação foi feita três anos após a morte do ditador comunista pelo seu sucessor, Nikita Khruschev, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

O PCFR pode ser considerado a única oposição real representada na Duma, ainda que partilhe do nacionalismo e conservadorismo social dos restantes partidos no Parlamento: Rússia Unida, do Rússia Justa e do Partido Liberal Democrata, de extrema-direita. Tem-se mantido desde os anos 2000 como segunda força política no país. É dirigido desde a fundação em 1993, como sucessor do PCUS, por Guennadi Ziuganov, que fará 72 anos no próximo dia 26.

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