O suicídio não nasce do vazio, mas sim de um processo que se vai entranhando. Exclusão Social, Colapso do Eu, Modelo Stress-Diátese, Teoria dos Modos, Alterações Neurobiológicas, entre outras conceções teóricas de acordo com Escolas Sociológicas, Psicodinâmicas, Psicobiológicas, Cognitivas ou de Neurociências, todas procuram integrar e simplificar o que é intrinsecamente complexo..O processo suicida é um constructo marcado pela ambivalência que vai oscilando ao longo do tempo. Reporta-se frequentemente a memórias traumáticas que reemergem da juventude ou acontecimentos de vida recentes perturbadores. A arte poética evidencia mais claramente tais mágoas nos oximoros: querer simultaneamente tudo e o seu contrário. O preto e o branco. O amor e ódio. O sol e a chuva. A vida e a morte..Os suicidas comunicam essencialmente por sinais (o observável), sintomas (as queixas) e narrativas (a história de vida a partir de memórias e vivências). O cenário suicida aqui se expõe sintetizado: Dor psicológica intensa; Perda da autoestima; Construção da mente, sem diversificação de horizontes; Sensações de isolamento e de solidão; Desesperança persistente; e Fuga, tida como forma de parar a consciência e o sofrimento atroz..Compreender-se-á que uma das queixas mais comuns é a insónia, acompanhada de humor depressivo e anedonia num espetro melancólico. Traços temperamentais como a impulsividade ou a perturbação de identidade, se associados a sentimentos de culpa e a um estado de ensimesmado, prejudicam o prognóstico. O eventual consumo de substâncias, designadamente álcool, tem um efeito perverso porque facilita a passagem ao ato suicida..Em Portugal, o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, disponível online, propõe diversas medidas de acompanhamento para pessoas com ideação suicida ou protagonistas de comportamentos auto lesivos..A Organização Mundial de Saúde publicou um manual com recomendações sobre o tratamento noticioso de casos de suicídio, onde explicar o que se deve e não se deve fazer..O que se deve fazer: Trabalhar e cooperar com as autoridades de saúde; Apresentar apenas dados relevantes em páginas interiores; Realçar alternativas ao suicídio; Dar informações sobre Linhas de Ajuda e outros apoios comunitários; e Publicar indicadores de risco e sinais de aviso..O que não se deve fazer: Publicar fotografias; Publicar cartas de despedida; Noticiar pormenores do suicídio; Glorificar o suicídio; e Usar estereótipos culturais ou religiosos..Perante um doente com ideação suicida, compete ao clínico pôr em prática alguns procedimentos elementares: Empatia genuína com o doente; Legitimar o sofrimento; Valorizar a narrativa; Explorar dissonâncias cognitivas da ambivalência; Avaliar as razões para viver e as razões para morrer; Criar proximidade e sugerir alternativas; Estimular sentimento de pertença e inclusão familiar e social; Marcar nova consulta para a semana seguinte; Tentar vincular para a reavaliação e o seguimento; e Disponibilizar contactos de fácil acesso e desburocratizados..A chamada "crise suicida" esbate-se rapidamente na maior parte dos doentes sob terapia específica e/ou psicofarmacoterapia de acordo com as boas práticas. Restarão cerca de 20% de casos que poderão evoluir para um padrão recorrente problemático e que justificarão um acompanhamento de maior proximidade e eventualmente uma intervenção sistémica.