Se a magia não fosse a arte da ocultação de truques que mascaram a realidade, dir-se-ia que Marcelo Rebelo de Sousa fez-se mago em Angola, porque transformou, ainda que se calhar apenas por momentos, verdadeiramente, sem truques, a realidade angolana. Sobretudo no plano político. O Parlamento angolano não é tão pera doce como parece, tem políticos astutos, apesar de poucos. Bem experimentados e sabedores da arte de marcar pontos nos momentos exatos. Eu estava à espera de algum golpe de teatro na visita de Marcelo à Assembleia Nacional, até porque um deputado pela UNITA, David Mendes, anunciara antes o seu boicote, pessoal, justificando-o até com a "falta de respeito" do Bloco de Esquerda a João Lourenço quando este esteve na Assembleia da República, em Lisboa. Faltou..Não se levantou qualquer tipo de protesto, nem sobre os recentes irritantes, nem sobre as velhas contas que gostam de dar a cara quando o representante de um país ex-colonizador visita o ex-colonizado, com uma fatura permanentemente cobrada, pelo subdesenvolvimento..Nada disso, o que vi foi uma unanimidade para lá de absoluta nos pronunciamentos dos diversos líderes de grupos parlamentares e de deputados sobre a importância e a honra na visita de Marcelo. Todos advogaram a importância de um bom relacionamento entre os dois países, todos reconheceram em Marcelo um estadista amigo de Angola e de quem Angola deve ser amiga. De repente, politicamente, não há problemas com Portugal em Angola. De repente, UNITA e MPLA deixaram de ter cada um o seu Portugal, conforme as amizades políticas..Depois, nas ruas por onde passou, as pessoas que contactou, o povo, a unanimidade também. O povo conhece Marcelo, na Huíla talvez melhor do que o próprio governador provincial, ainda novo no cargo. Ti Celito é nosso e conhecemo-lo, pode-se concluir. E mais ainda: gostamos dele. Falou-se de política, de dívidas, de dinheiro, de trinta e tal acordos assinados, de formação de quadros, tudo assuntos que podem levantar contradições. E falou-se de tudo isso em relação a Portugal, "o que nos divide, que se mete nos nossos assuntos". Com qualquer outra pessoa estes temas estariam a ser objeto de intenso debate nos media, e nos media em Angola costuma a ser assim. Mas desta vez não, desta vez Marcelo trouxe um Portugal diferente, amigo, humilde, comunicador, e fez da aceitação angolana uma só. E fez os angolanos olharem para Portugal de outra forma, talvez de uma única nova forma..Diretor do jornal O País
Se a magia não fosse a arte da ocultação de truques que mascaram a realidade, dir-se-ia que Marcelo Rebelo de Sousa fez-se mago em Angola, porque transformou, ainda que se calhar apenas por momentos, verdadeiramente, sem truques, a realidade angolana. Sobretudo no plano político. O Parlamento angolano não é tão pera doce como parece, tem políticos astutos, apesar de poucos. Bem experimentados e sabedores da arte de marcar pontos nos momentos exatos. Eu estava à espera de algum golpe de teatro na visita de Marcelo à Assembleia Nacional, até porque um deputado pela UNITA, David Mendes, anunciara antes o seu boicote, pessoal, justificando-o até com a "falta de respeito" do Bloco de Esquerda a João Lourenço quando este esteve na Assembleia da República, em Lisboa. Faltou..Não se levantou qualquer tipo de protesto, nem sobre os recentes irritantes, nem sobre as velhas contas que gostam de dar a cara quando o representante de um país ex-colonizador visita o ex-colonizado, com uma fatura permanentemente cobrada, pelo subdesenvolvimento..Nada disso, o que vi foi uma unanimidade para lá de absoluta nos pronunciamentos dos diversos líderes de grupos parlamentares e de deputados sobre a importância e a honra na visita de Marcelo. Todos advogaram a importância de um bom relacionamento entre os dois países, todos reconheceram em Marcelo um estadista amigo de Angola e de quem Angola deve ser amiga. De repente, politicamente, não há problemas com Portugal em Angola. De repente, UNITA e MPLA deixaram de ter cada um o seu Portugal, conforme as amizades políticas..Depois, nas ruas por onde passou, as pessoas que contactou, o povo, a unanimidade também. O povo conhece Marcelo, na Huíla talvez melhor do que o próprio governador provincial, ainda novo no cargo. Ti Celito é nosso e conhecemo-lo, pode-se concluir. E mais ainda: gostamos dele. Falou-se de política, de dívidas, de dinheiro, de trinta e tal acordos assinados, de formação de quadros, tudo assuntos que podem levantar contradições. E falou-se de tudo isso em relação a Portugal, "o que nos divide, que se mete nos nossos assuntos". Com qualquer outra pessoa estes temas estariam a ser objeto de intenso debate nos media, e nos media em Angola costuma a ser assim. Mas desta vez não, desta vez Marcelo trouxe um Portugal diferente, amigo, humilde, comunicador, e fez da aceitação angolana uma só. E fez os angolanos olharem para Portugal de outra forma, talvez de uma única nova forma..Diretor do jornal O País