Comboio tinha sido sujeito a vistoria há três dias no Porto

As composições do comboio Celta tinham sido construídas há mais de 30 anos e renovadas depois de 2002. Eram da empresa espanhola Renfe, mas estavam alugadas à CP
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O comboio que descarrilou ontem de manhã junto à estação de O Porriño, na Galiza, provocando a morte de quatro pessoas, entre as quais um português, tinha sido sujeito a uma revisão de rotina, na quarta--feira, no Porto. Propriedade da Renfe (operadora espanhola), o comboio, que tem mais de 30 anos, terá sido submetido a uma intervenção mais profunda, há dois meses, em Espanha. As causas do acidente ainda estão por apurar, mas o presidente da CP já descartou a possibilidade de falha humana ou do material circulante, que, apesar de ser bastante antigo, estaria em boas condições para circular.

Eram 09.25 (08.25 em Lisboa) quando o comboio que fazia a ligação Vigo-Porto descarrilou, a cerca de 300 metros da estação de O Porriño, com 69 pessoas de várias nacionalidade a bordo. Quatro morreram - entre os quais o maquinista, um cidadão português, o revisor, espanhol, e um jovem norte-americano - e 49 ficaram feridas. Ao final da tarde, 12 continuavam hospitalizadas, mas nenhuma corria perigo de vida. Dos três portugueses que foram hospitalizados, apenas um permanecia no hospital.

A ligação ferroviária Celta, inaugurada em 2013 para ligar o Porto a Vigo, é explorada pela CP e pela Renfe. "A gestão é partilhada pelas duas", adiantou ao DN Ana Portela, porta-voz da CP. Daí que a tripulação seja portuguesa e espanhola. Como o comboio é propriedade da Renfe - e alugado pela CP -, cabe à empresa espanhola a responsabilidade de fazer as grandes revisões, mas por vezes é solicitado à CP que faça revisões de rotina.

Destacando que foram feitas duas revisões recentemente, Manuel Queiró, presidente da Comboios de Portugal, afirmou que "nada indica que tenha havido falha humana ou de material circulante", pelo que "poderá ter-se tratado de uma circunstância anormal", que não especificou. Ao que o DN soube, o maquinista, José Moreira, de 46 anos, contava com mais de 20 anos ao serviço da empresa e fazia aquela viagem com alguma regularidade.

A linha onde ocorreu o acidente estava em obras, pelo que, segundo o ministro espanhol Rafael Catalá, o comboio teve de ser desviado para "uma linha secundária que obrigava a uma redução de velocidade". Mas o maquinista estava informado do desvio, garantiu. Segundo algumas testemunhas, o comboio bateu contra um pilar da ponte e embateu depois num poste de eletricidade. "Vi gente a morrer no mesmo comboio em que eu seguia, vi muita gente a gritar, a minha filha a chorar, muito pânico, sinto que não morri por milagre", desabafou uma testemunha.

Os dados da caixa negra do comboio, essenciais para a investigação, começaram ontem a ser recolhidos. "Será responsável pelo pagamento das indemnizações a empresa que tiver tido responsabilidade na causa do acidente", explicou ao DN o advogado Rui da Silva Leal. Se houve uma falha relacionada com a manutenção - e as duas empresas estão incumbidas de fazer revisões -, ambas podem vir a ser responsabilizadas. Se tiver existido uma falha nos carris, será a empresa espanhola Adif a responder pelo acidente.

O comboio foi construído entre 1981 e 1984, tendo sido modernizado alguns anos mais tarde. Mas o facto de ser antigo poderá não ter nada que ver com o acidente. "A vida do material exterior não acaba, o que acaba são os interiores e os motores, que têm de ser substituídos. Em Portugal, há carruagens a circular com 40 a 50 anos, que já sofreram várias requalificações", diz David Ribeiro, da Comissão de Reformados Ferroviários.

A CP informou ontem que participará na comissão de inquérito "de imediato constituída" para esclarecer as respetivas causas. Entretanto, a Câmara Municipal de Vigo decretou três dias de luto oficial pelas vítimas. Com LUSA

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