Neste ano, temos sido confrontados com imensas imagens e histórias que vão permanecer na nossa memória. Os exemplos de solidariedade e apoio mútuo a que temos assistido são encorajadores. Ao mesmo tempo, as medidas necessárias para conter o vírus levaram a que vastos setores das nossas sociedades ficassem ainda mais isolados, solitários e afastados dos seus entes queridos, como as pessoas que vivem sós ou as pessoas mais vulneráveis, incluindo os membros mais idosos das nossas comunidades. E, obviamente, nunca esqueceremos as pessoas que morreram na solidão devido à pandemia..Não é por acaso que, neste ano, no 77.º Festival de Cinema de Veneza se apresentou uma animação quadro a quadro (Solitaire, de Edoardo Natali) sobre a vida de duas pessoas idosas que vivem isoladas, salientando a importância fundamental dos contactos sociais para o seu bem-estar..Os estudos demonstraram que há uma relação entre a solidão e problemas de saúde na velhice. É o caso, em particular, da demência, da depressão e de outros transtornos da saúde mental..No entanto, a solidão não é apenas uma questão de idade nem é sinónimo de estar só. Cada vez mais jovens relatam sentimentos de solidão..A solidão e o isolamento social também têm implicações económicas. As redes humanas servem para interligar as pessoas, transferindo assim conhecimentos, ideias e competências, e criando oportunidades na procura de emprego, o que tem um impacto na investigação e na inovação..A solidão e o isolamento influenciam a forma como vivemos juntos enquanto sociedade. O recente relatório da Comissão Europeia sobre o impacto da evolução demográfica mostra que as pessoas vivem cada vez mais sozinhas, sendo o problema particularmente grave nas cidades: 40 % em Milão; 50 % em Paris; 60 % em Estocolmo. E, com o envelhecimento da população europeia, cada vez mais pessoas idosas viverão sozinhas. Por terem uma maior esperança de vida, as mulheres serão mais afetadas do que os homens..Os pobres e os desempregados são os mais suscetíveis de serem afetados pela solidão. Os nossos esforços no sentido de apoiar uma ampla recuperação económica e combater as desigualdades são ainda mais prementes neste contexto..Temos de garantir que as duras lições da pandemia conduzem a melhor saúde e a mais solidariedade, especialmente entre gerações. A Comissão Europeia fará a sua parte na resposta a este desafio, colaborando com os responsáveis pela tomada de decisões em toda a UE. Para tal, teremos de dar resposta ao impacto que a solidão tem na saúde e aos seus efeitos nas oportunidades de emprego, na inovação, na produtividade e, em última análise, no crescimento económico. À medida que envidamos esforços para garantir que as nossas sociedades e economias não só recuperam como emergem mais resilientes após esta pandemia, a solidão deve ser um elemento integrante na elaboração das nossas políticas..Mas a solidão também requer a atenção de todos de nós, todos os dias. Nas palavras de Jo Cox, o deputado britânico assassinado alguns dias antes do referendo sobre o Brexit e que trabalhou arduamente para sensibilizar para esta questão "a solidão... é algo que muitos de nós podemos combater olhando por um vizinho, visitando um familiar idoso ou telefonando a um amigo que não vemos há muito tempo"..Dubravka Šuica, vice-presidente da Comissão Europeia e Paolo Gentiloni, comissário europeu da Economia