Já curado dos estilhaços do rebentamento de uma granada, lançada por um sequestrador moldavo a partir do interior de um restaurante no Pinhal Novo, há um ano, o comandante do posto local da GNR espera que lhe seja declarada em breve a incapacidade psicológica para o cargo, por motivo de stress pós-traumático, apurou o DN com fontes militares..No mesmo estado estão outros três militares do posto, que ficaram gravemente feridos na operação de 23 de novembro de 2013, atingidos pelos estilhaços de uma granada de fragmentação. Esses militares ainda não recuperaram, mais de um ano depois, dos danos psicológicos e de alguns físicos. Para todos, o maior golpe emocional foi a morte, no interior do restaurante, do jovem militar Bruno Chaínho..O comandante do posto do Pinhal Novo, que está em funções mas continua em acompanhamento psicológico, deverá ser visitado em breve por uma junta médica para que lhe seja declarado um grau de incapacidade por stress pós-traumático, confirmaram ao DN fontes próximas do sargento Cláudio Almeida..Outro dos militares feridos vai também requerer incapacidade. Um terceiro militar, o qual ficou com 54 estilhaços de um engenho explosivo na pele, está de baixa há um ano..As mesmas fontes garantem que o comandante do posto de Pinhal Novo já não se sente apto para funções de comando. Prefere ficar em funções administrativas. Não é pela idade pois tem apenas 37 anos. É pelo trauma. Desde a situação do sequestro que a sua vida mudou completamente. Cresceu a revolta. Não compreende o cerco de seis horas no local, entende que a GNR devia ter neutralizado o suspeito antes. As mesmas fontes adiantam que o sargento sente que não foi dignamente tratado pela instituição, que diz já se ter esquecido dele e dos outros. O comandante do posto também não gostou que os seus homens que ficaram feridos no incidente não tivessem sido incluídos nos primeiros louvores emanados do comando de Setúbal a 30 de dezembro de 2013. Esses primeiros louvores foram para os 70 militares da Unidade de Intervenção que cercaram o local. Os efetivos da GNR do Pinhal Novo, que foram os primeiros a chegar ao restaurante, só receberam louvores em fevereiro de 2014, emanados do comando geral da GNR, o que causou indignação no grupo dos feridos e nas associações sindicais da GNR. Finalmente, o comandante do posto também já não sente ter a força para combater a falta de meios na zona. Como explicou fonte militar, o Pinhal Novo conta com 30 guardas para uma área territorial de 55 km2 e mais de 25 mil habitantes..A 23 de novembro de 2013 duas mulheres e dois homens (entre eles, o proprietário do restaurante O Refúgio, a esposa e a filha), foram sequestrados por um cidadão moldavo, Mihail (Miguel) Codja, de 59 anos, que se encontrava em em Portugal desde 1999. No relatório da GNR sobre o incidente tático policial, a que o DN teve acesso, estão os momentos de terror ao minuto. Cerca das 21.30, o suspeito entrou carregando uma mala. Pediu dois whiskies e um pudim, que pagou e consumiu. Meia hora depois, quando o restaurante estava a fechar e não havia mais clientes, Miguel empunhou uma arma de fogo e exibiu três a quatro granadas presas à cintura e um engenho explosivo, ameaçando o proprietário, a sua mulher e os filhos. Em seguida, algemou o dono do restaurante e o seu filho com braçadeiras plásticas, deixando a mulher e a filha libertas. No mesmo ato, explicou que sofria de uma doença de sangue e só teria um ano de vida se não fizesse tratamentos médicos no valor de 50 mil euros. A família sequestrada teria de lhe pagar os tratamentos, a troco da libertação. Para intimidar ainda mais, referiu ter estado na guerra do Afeganistão e descreveu que matava as pessoas cortando-as desde a boca até às orelhas, degolando-as de seguida. Mostrou várias facas num saco e retirou munições de kalashnikov do bolso. Entretanto, a mulher do dono do restaurante sentiu-se mal, e enquanto o moldavo a foi acudir, a filha do proprietário ligou para o 112 e alertou as autoridades. Cinco minutos depois da chamada, chegou uma patrulha da GNR do Pinhal Novo. O guarda Bruno Chaínho bateu à porta. O suspeito obrigou as reféns a abrir a porta para dizer que nada se passava. O militar mandou as mulheres saírem, tirou a arma de serviço do coldre, entrou cautelosamente no interior mas ficou de frente para a posição do suspeito. Este disparou com arma a três ou quatro metros na direção do militar, que teve morte imediata.