Tanja Bueltmann nasceu há quatro décadas. Quase outras quatro tinham passado desde que terminara a II Guerra Mundial. "Apesar de saber que não tive nada que ver com o que aconteceu na guerra, o meu país, a Alemanha, fez coisas absolutamente terríveis e ter ultrapassado isso através de uma identidade europeia unificada é muito importante para mim", diz ao DN a historiadora alemã que estudou na Nova Zelândia e vive no Reino Unido. Aí, no país do Brexit, lançou no ano passado a campanha #EUcitizensChampion Campaign, destinada a exigir a proteção dos direitos dos cidadãos num cenário de saída do Reino Unido da UE.."A grande diferença é entre haver ou não acordo. Se houver acordo, muitas coisas estão asseguradas, apesar de não estarem todas. Mesmo com acordo haverá uma série de problemas. Num No Deal Brexit, haverá acordos dos vários países, mas não cobrem todas as áreas. Nalgumas áreas, como por exemplo a transferência de pensões, há muita incerteza. Alguns países fizeram acordos. Mas não são para toda a gente. Se não houver acordo será uma catástrofe. Quando os políticos dizem que está tudo bem, não está, é mentira", assinala a académica da universidade inglesa de Northumbria, que esteve nesta semana em Lisboa a participar numa conferência no Goethe-Institut..Geração Erasmus desiludida?.Membro da geração Erasmus, considera que apesar de esta ser a geração mais pró-UE de sempre "é difícil ir contra os nacionalistas. Eles têm uma mensagem mais apelativa e fácil de digerir. As pessoas querem alguém para culpar por todos os seus problemas. Em todo o mundo há pessoas que foram esquecidas e negligenciadas e não se fala sobre isso. O que está a ser feito para oferecer a estas pessoas uma solução? Nada. Esquerda e centro falharam em explicar às pessoas os benefícios da UE"..Bueltmann vai mais longe: "Por causa de toda esta confusão do Brexit eu própria me pergunto: o que significa ser cidadão europeu? De facto, significa nada. É isso que a UE nos está a mostrar, neste momento, com o Brexit. Estão a manter-nos no limbo. A UE podia muito bem pegar na parte relativa aos cidadãos e dizer que, aconteça o que acontecer, essa parte está assegurada num acordo destinado a proteger milhões de pessoas.".Houve uma emenda nos Comuns destinada a esse efeito. "Sim. Mas eles não querem fazer isso. Dizem que é cherry-picking, um acordo especial, um miniacordo, etc. Isso é desprezível. As pessoas agora ainda estão mais à beira do precipício. Flexiextensão? Como é que se vive com isso? Experimentem viver no limbo. Não é nada agradável." E alerta: "O populismo é uma ameaça real. Um desafio para a UE. E a UE não percebe. A forma como os cidadãos estão a ser tratados dá argumentos aos nacionalistas. Sem dúvida.".Acordo alternativo?.Numa altura em que a Câmara dos Comuns já chumbou três vezes o acordo do Brexit entre Londres e a UE27, o Reino Unido goza da segunda extensão do Artigo 50.º do Tratado de Lisboa, o que permite adiar a saída dos britânicos pelo menos até 31 de outubro. Buelt mann não acredita que as negociações entre os conservadores e os trabalhistas consigam produzir um acordo alternativo. "Jeremy Corbyn quer que o Brexit aconteça e não fará nada para impedi-lo. Se o líder do Labour chegar a algum tipo de acordo com a primeira-ministra, a maioria dos seus deputados não vai apoiá-lo. A maioria dos Tories também não o apoiariam. É um impasse e uma confusão.".A académica alemã, que sempre fez questão de se apresentar como cidadã da União Europeia, admite que poderia haver um segundo referendo mas também que o resultado poderia ser o mesmo ou o oposto mas com uma diferença mínima novamente. A 23 de junho de 2016 52% votaram pelo Brexit e 48% votaram contra o Brexit. "Também houve o problema de que não puseram nenhumas salvaguardas no referendo. David Cameron não esperava este resultado e não soube o que fazer.".E se May se demitir?.Nestas eleições europeias, "quem votava no Labour vai votar ou nos liberais-democratas, nos Verdes ou no novo Change UK! (saído do Grupo Independente). Mas são três partidos. É mais difícil de fazer passar a mensagem. Já Nigel Farage, com o seu Partido do Brexit, tem uma mensagem mais clara e direta. Não tenho paciência para ele. Mas é esperto e bom estratega"..E se May se demitir, como se especula nos media britânicos, isso vai mudar alguma coisa? "Não. Só pode abrir a porta a gente mais radical, que apoia o No Deal Brexit. Mas é verdade que cada vez mais gente fala na saída de May."