Coimbra duplica apoios sociais para responder à crise pandémica

A autarquia assinou conjunto de contratos-programas com instituições do concelho. A maior fatia vai para projetos de resposta alimentar e acolhimento de sem-abrigo. Porque a pandemia alterou o tecido social da região
Publicado a
Atualizado a

"O que notamos, desde que a pandemia começou, é um maior recurso às instituições sociais". O tecido social de Coimbra alterou-se nos últimos meses, à conta da covid-19. As palavras do vereador Jorge Alves, que tem a seu cargo o pelouro da Ação Social, dão conta de um aumento significativo de famílias "com mais dificuldades". "E por isso é tão importante dotar estes instrumentos de verba", afirma ao DN, dias depois do município ter assinado um conjunto de 15 contratos-programas, com outras tantas instituições do concelho, num montante global de 226 mil euros.

Entre as IPSS"s e associações que agora veem reforçados os fundos para auxiliar quem está em dificuldades, há de tudo. Mas vale a pena destacar a Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI), o Banco Alimentar Contra a Fome de Coimbra, e a delegação de Coimbra do CASA, num valor superior a 26 mil euros.

"Houve famílias com mais dificuldades, algumas ficaram desempregadas, outras atingidas pelo layoff", diz ao DN Jorge Alves, referindo-se a um tecido social que se alterou. "Eram pessoas que tinham a sua vida organizada e, de repente, deixaram de ter".

O autarca adianta que o município tinha montado um sistema de resposta social "já há muito tempo, numa lógica de proximidade". "Destacámos um técnico de apoio a cada freguesia, e pusemos a funcionar as várias comissões sociais de freguesia, num total de 18. Temos cerca de 360 parceiros, desde IPSS"s, associações recreativas, ou até voluntários, que participam ativamente naquilo que é a resposta à dificuldade em cada freguesia". Era assim antes da pandemia, porque Coimbra já registava uma amostra de casos sociais importante. A partir de março, foi preciso "reforçar ainda mais o trabalho com as estruturas de proximidade". "Isso permitiu chegar a diversos nichos, desde os que estavam em casa até aos que já eram apoiados por instituições", completa Jorge Alves.

As comissões sociais de freguesia já estavam dotadas de uma verba, cada uma delas, através do Fundo Municipal de Emergência Social. Mas foi preciso reforçá-lo. "Tem andado todos os anos na casa dos 150 mil euros. Este ano duplicámos esse apoio, para os 316 mil euros", acrescenta o autarca.
De acordo com o Regulamento Municipal para Atribuição de Apoios na Área Social (RMAAAS), entretanto criado para apoiar financeiramente as instituições, cada uma delas pode candidatar-se em três vertentes: desenvolvimento de programas, projetos e atividades inovadoras; construção de obras e equipamentos sociais. Numa primeira fase, a autarquia de Coimbra já atribuíra os tais 26 mil euros às três instituições para reforçar a capacidade de resposta na área alimentar (cozinha económica, CASA - que gere o espaço de apoio aos sem-abrigo - e ainda o Banco Alimentar contra a Fome).

Do conjunto de 15 instituições apoiadas fazem parte projetos diversos, muito para lá do apoio alimentar ou das condições de habitabilidade como o da Associação Nacional de Apoio a Jovens (AnaJovem), que com os 14 190,71€ euros de financiamento vai implementar um programa de intervenção psicossocial, ao domicílio, direcionado para a psicoeducação, treino cognitivo e dificuldades emocionais apresentadas por idosos que tenham familiares diretos de consumidores de substâncias.
Merece também destaque o projeto que o Centro Social e Paroquial de São João do Campo pretende por em prática. Chama-se "Nós e a Terra", e tem o objetivo de fomentar a interação com a natureza, a agricultura, a alimentação saudável junto das comunidades locais.

"O projeto será desenvolvido em vários locais da freguesia de São João do Campo e destina-se, essencialmente, a crianças e idosos. Desta forma, o projeto permite que as crianças brinquem ao ar livre e contactem com a natureza e ajuda a combater o isolamento social e a solidão entre a população idosa, promovendo a sua inclusão social e qualidade de vida. O apoio financeiro é de 10 679,71 euros", refere a autarquia.

Outro dos projetos inovadores que agora foi contemplado no âmbito do RMAAS é o da Fundação Madre Sacramento, que vai receber 9607,19 euros, para um programa de apoio a vítimas de violência e exclusão social. "Por um lado, é uma resposta direcionada para a inclusão sócio-laboral, sendo uma resposta inovadora e eficaz à problemática do desemprego e de exclusão social em grupos vulneráveis. Por outro lado, vai permitir uma resposta que tem como objetivos a promoção da redução de riscos de exclusão social; bem como de competências pessoais e sociais das pessoas em situação de vulnerabilidade social, nomeadamente as vítimas de violência e exclusão social".

Destaque ainda para a atribuição de 37 342,96 euros à Fundação ADFP. Trata-se de uma das maiores fatias deste bolo de apoios e destina-se a comparticipar a atividade desenvolvida no Projeto "Sem-Abrigo Zero", para um centro de acolhimento de emergência para pessoas em situação de sem-abrigo em Coimbra. Este apoio irá permitir o acolhimento até 35 pessoas.

Vão ainda receber apoio financeiro instituições como a Associação Recreativa, Cultural e Social de Cioga do Monte (12 370,90); a Casa dos Pobres de Coimbra (11 577,51); Centro de Apoio Social de Souselas (21 059,37); o Centro Paroquial de Solidariedade Social de Ribeira de Frades (8599,50); o Centro Social e Recreativo da Cidreira (15 087,50€); a Comunidade Juvenil Francisco de Assis (14 126,53) e a Plataforma PAJE - Apoio a Jovens (ex)Acolhidos (2640).

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt