Quase 30 anos separam as primeiras notícias sobre o projeto do Metro do Mondego - que avançou mas nunca chegou a ser concretizado - e as mais recentes, que dão conta da aprovação, no início desta semana, do projeto de execução de uma das três linhas do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM)..Trata-se, afinal, de um projeto que em janeiro foi contemplado com 60 milhões de euros por parte da Comissão Europeia, num universo de investimento estimado em mais de 89 milhões de euros. Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra (que também preside à Associação Nacional de Municípios Portugueses), não teve dúvidas ao considerar a última segunda-feira como "um dia histórico". "Finalmente vamos ver a luz ao fundo do túnel", disse, no final da reunião do executivo, onde foi aprovado o projeto de execução da chamada Linha do Hospital. Para trás ficam três décadas de expectativas, e muitos milhões de euros investidos no que deveria ter sido o metro para servir a região. As obras pararam em 2010 (ainda antes de a troika chegar a Portugal, com o marcante encerramento do ramal ferroviário da Lousã. Retomadas pelo atual governo, deixam adivinhar uma obra que, no final, não será nada do que foi sonhado nos anos de 1990. Em comum, apenas o presidente da câmara: o socialista Machado liderava a autarquia quando o governo de António Guterres aprovou o Metro Mondego..O SMM traduz-se, afinal, na implementação de um metrobus, utilizando veículos elétricos a baterias que vão operar no antigo ramal ferroviário da Lousã (desativado há 11 anos) e na área urbana de Coimbra, ligando a cidade à vila de Serpins, no concelho da Lousã, com passagem por Miranda do Corvo, numa extensão de 42 quilómetros..Quando, em setembro de 2020, o ministro Pedro Nuno Santos foi presidir ao arranque da obra, considerou estar em causa "um auto de consignação". Para o ministro das Infraestruturas, era aquele "o momento em que o Estado entrega ao empreiteiro a responsabilidade de fazer a obra". E então foram consignados 30 quilómetros do metrobus entre Serpins e o Alto de São João, em Coimbra. Por esta altura, a obra do SMM já avançou em várias frentes - desde a conclusão da via central para a passagem do metrobus na Baixa, aos trabalhos de reforço dos pilares da Ponte da Portela (onde vai passar o troço Serpins-Alto de São João), cuja empreitada está também em curso. O que a autarquia aprovou nesta semana foi o projeto de execução da Linha do Hospital, que fará a ligação direta entre a Baixa de Coimbra e a Linha da Lousã aos Hospitais da Universidade, Instituto Português de Oncologia e Hospital Pediátrico..Citado pela agência Lusa, Manuel Machado destaca o facto de ter sido possível projetar o metrobus a atravessar o coração da cidade "respeitando o património mundial e as suas classificações, com todas estas condicionantes que tiveram algumas dificuldades em ser resolvidas".."Hoje damos um passo importante para concretizar o metrobus, em estruturas de circulação compagináveis com os movimentos pendulares que foram estudados", disse. Na verdade, a designação acabou por forçar a ligação do projeto antigo com o atual, uma vez que não se trata de linha de metro mas de autocarros elétricos. Mas Machado continua a referir-se ao metro, sublinhando esse "passo notável para a sua concretização"..Na reunião de segunda-feira, o projeto de execução acabou por ser aprovado por maioria, com os votos contra dos dois vereadores do Movimento Somos Coimbra - que apontou várias deficiências ao projeto - e a abstenção do único vereador eleito pela CDU. Mas, antes, conseguiu escassos 20 minutos para ver o projeto "até hoje escondido", como acusa Ana Bastos, vereadora do Somos Coimbra. Engenheira civil, especializada em transportes (e conhecedora da primeira fase das obras), a autarca emitiu um comunicado, no final da reunião do executivo, em que aponta várias falhas ao projeto global - "que nunca chegou a ser sequer sujeito a discussão pública". Porém, "apesar das sucessivas amputações e descaracterização que tem vindo a sofrer ao longo do tempo, não deixa de ser a oportunidade que a cidade tanto espera para fomentar a alteração do paradigma da mobilidade urbana", sublinha Ana Bastos.."Não percebo porque tanto a Metro Mondego como a Infraestruturas de Portugal escondem este projeto, para já não falar na própria câmara", afirma a vereadora, que recorda a diferença abissal "entre um equipamento sobre carris ou um autocarro que pode ir a todo lado". Porém, não vai. Desse "projeto cada vez mais amputado", a oposição sublinha várias lacunas, acusando o executivo de "se ter mostrado incapaz de implementar um sistema de metro ligeiro de superfície", bem como "de garantir que o serviço cobrisse o Polo I (da universidade), o maior polo de procura da cidade. Até o elevador para mitigar o problema da subida das escadas monumentais terá de ser pago pelos conimbricenses".