Os maiores de 70 anos já começaram a ser chamados para levar mais um reforço das vacinas contra a covid e a gripe. É aquela altura do ano em que se quer prevenir um inverno mais letal do que pressagia o degradado estado de saúde da maioria dos mais velhos, num país que está entre os piores em qualidade de vida após os 65. Não só Portugal é o terceiro país da União Europeia com a população mais envelhecida como é dos que pior cuidam dos seus velhinhos. E para o constatar nem é preciso chegar a casos extremos de lares que fazem notícias pelas mais trágicas razões. Segundo o Observatório Nacional do Envelhecimento, os portugueses têm uma esperança de vida saudável e independente de apenas 6 anos após essa fasquia - nos dinamarqueses, por exemplo, é mais do dobro..Com uma população cuja média etária vai nos 45,8 anos (só Itália e Alemanha estão pior), a pobreza e o isolamento que já afetam maioritariamente os portugueses mais velhos tem vindo a intensificar-se. No entanto, da mesma forma que se continua a assobiar para o lado quanto à criação de medidas sérias para combater o enorme problema demográfico do país e inverter o caminho de encolhimento que Portugal vem trilhando há anos - entre a falta de bebés e os jovens que desistem de lutar contra os obstáculos que constantemente lhes são atirados para a frente dos pés -, não existe verdadeira proteção ou sequer atenção à velhice. Nem sequer quando se revela vontade de evitar as fatalidades que os invernos sempre semeiam entre os mais frágeis..Chamar os mais velhos para a vacina não resolve nada quando uma pessoa de 80 anos é obrigada a deslocar-se a um centro de vacinação que implica uma hora de viagem de autocarro, seguida de 900 metros a pé em terra batida. Para os muitos que não podem contar com filhos ou cuidadores, pode sair pior a cura do que a doença. É como decretar creches grátis para todos no papel, mas não ter onde acolher as crianças. Ou resolver a falta de professores com regras que levam os que ainda querem ensinar a desistir e a fugir..É a governação da aspirina e do penso rápido (só no nome). Em vez de se diagnosticar, planear, avaliar e ajustar com o objetivo de produzir melhoras, recorre-se a soluções instantâneas que geram mais problemas, complexidade e ineficiências. É o que explica a primeira resposta ao grave problema das urgências de ginecologia e obstetrícia fechadas no verão (conhecida a meio de outubro e para aplicar em 2023), que passa por encerrar definitivamente esse serviço em pelo menos quatro hospitais: Vila Franca, Barreiro, Covilhã e Castelo Branco. Não está nada decidido, claro - até porque a indignação foi rápida e amplificada -, mas a simples ideia já levantou os cabelos a médicos e autarcas. E devia envergonhar quem diariamente nos quer vender elixires mágicos para a coesão, para a natalidade, para a qualidade de vida na velhice.