Coabitação Costa-Marcelo: o esteio do nosso regime
Tive ocasião de afirmar, antes do novo mandato de Marcelo, que a coabitação com Costa era o esteio do nosso regime, tão sólida se apresentava. Algumas fissuras na coabitação, sem gravidade, aliás, que se verificaram, não me fazem mudar de opinião e não creio que o bom relacionamento entre Marcelo e Costa, pelo que conheço de ambos, esteja minimamente afetado.
O Presidente teve a preocupação de apoiar as medidas mais recentes do Governo e afirmou que o combate à pandemia não se coaduna com divergência, numa alusão clara às relações entre Belém e São Bento.
Mesmo no episódio da tão falada desautorização, por a pandemia voltar ou não para trás, o primeiro-ministro teve o cuidado de dizer aos jornalistas para não fazerem 'romances', pois não havia qualquer divergência.
Verifica-se, assim, que tanto Marcelo como Costa estão empenhados em manter a harmonia institucional de tempos bem recentes e que tão benéfica é para o nosso país.
Doutra maneira não poderia ser, aliás, pois se uma das principais bandeiras do Presidente é a estabilidade, não faria sentido que houvesse instabilidade e logo ao mais alto nível.
Ainda há bem pouco tempo, Marcelo disse que o segredo português residia na estabilidade entre Presidência da República, Governo e Parlamento. De facto, uma das grandes conquistas mais recentes da nossa democracia, à beira de fazer meio século, foi a de se ter banido a guerrilha institucional entre os órgãos de soberania."Vou ser exatamente o mesmo", salientou Marcelo, após a sua vitória eleitoral. Não creio que diga uma coisa e faça outra.
A paz institucional é tão ou mais relevante do que a paz social ou a paz nas ruas. Terá sido esta uma das principais razões, pelas quais António Costa deu o seu apoio a Marcelo, ainda que implícito, na corrida a Belém. E não julgo que tenha errado, como alguns precipitadamente já o dizem.
Tanto a esquerda como o atual Presidente são importantes para o PS. Saber qual deles é mais, não se apresenta fácil de responder. Mas os socialistas podem confiar em António Costa - um estratega hábil e um negociador nato, que goza de "boa saúde", como muito recentemente fez questão de sublinhar.