O Vaticano associou-se esta sexta-feira às preocupações da greve climática estudantil, numa mensagem à comunidade científica em que considera a limitação do aquecimento global a 1,5 graus celsius uma obrigação "moral" e "religiosa", segundo a agência Ecclesia.."Com o aquecimento global em volta de 1°, desde a revolução industrial, já estamos a ver o impacto severo das mudanças climáticas nas pessoas, em termos de condições climáticas extremas, como secas, cheias, aumento do nível do mar, tempestades devastadoras e incêndios violentos. A crise climática está a atingir proporções sem precedentes. A urgência, portanto, não poderia ser maior", refere o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé)..Esta posição surge numa mensagem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral dirigida à comunidade científica por ocasião do 4.º aniversário da encíclica "Laudato Si" do Papa Francisco, um texto que propõe uma ecologia integral..A Carta Encíclica foi publicada em 2015 e pretendia encorajar o trabalho que levou ao histórico Acordo de Paris sobre o clima, visando manter a temperatura média da superfície do planeta abaixo dos 2º celsius..Para o Vaticano, o limiar de 1,5° C é um limiar físico crítico, pois ainda permitiria evitar muitos impactos destrutivos das alterações climáticas provocadas pelo Homem, tais como a regressão das principais camadas de gelo e a destruição da maior parte dos recifes de coral tropicais, protegendo "a casa comum"..Mas 1,5º C é também para o Vaticano um limiar moral uma vez que é a última oportunidade para salvar os países e os milhões de pessoas vulneráveis nas regiões costeiras, e um limiar religioso porque o mundo que está a ser destruído "é o dom de Deus para a Humanidade".."Os pobres pagam o preço mais alto da mudança climática", refere o Dicastério..Na mensagem o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral refere ainda que o apelo alarmante dos cientistas para que se aja em prol da "casa comum" é apoiado por um apelo muito poderoso vindo das gerações jovens, cujo futuro está ameaçado.."Os jovens exigem uma mudança de nós" (LS 13 ) e há um movimento ativo de alunos e estudantes em todo o mundo", refere..Na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, este ano, acrescenta o Vaticano, os jovens lançaram a "Geração Laudato Si" e publicaram um manifesto que desafia as comunidades religiosas e a sociedade civil para uma conversão ecológica radical em ação..Nos últimos meses, diz o Vaticano, os jovens tornaram-se cada vez mais explícitos, "como pode ser visto, por exemplo, nas impressionantes ´greves ambientais´".."É hora de organizar uma intervenção. Como é afirmado em 'Laudato Si' ", refere a mensagem, observando que todos terão de que fazer uma mudança radical no estilo de vida, no uso de energia, no consumo, no transporte, na produção industrial, na construção e na agricultura.."Cada um de nós é chamado a agir. Mas também precisamos de agir juntos, começando pelos governos e instituições, famílias e pessoas: precisamos de todos os braços disponíveis. Precisamos dos talentos e do envolvimento de todos (LS 14) para enfrentar essa crise e derrotar os poderosos interesses que impedem nossa resposta coletiva significativa a essa ameaça sem precedentes contra nossa civilização", afirma o dicastério na mensagem..No entender do Vaticano, para enfrentar esta crise climática alarmante, é preciso mobilizar a vontade e a decisão, bem como os recursos económicos em larga escala tal como feito durante a crise financeira de 2007-2008 para salvar os bancos..Milhares de jovens de mais de uma centena de países, incluindo de meia centena de localidades de Portugal, fazem hoje greve às aulas para protestar contra a inação dos governos em relação às alterações climáticas..O movimento dos jovens tem origem numa estudante sueca, Greta Thunberg, que no verão passado começou sozinha uma greve às aulas, manifestando-se em frente ao parlamento sueco..A 17 de abril o Papa Francisco encontrou-se por alguns minutos com a jovem ativista sueca incentivando-a na sua ação em defesa do ambiente. "Vá em frente", disse o Papa Francisco à jovem sueca de 16 anos.