"Ciudadanos vai ser a garantia de não haver terceiras eleições"

Pablo Yáñez é, aos 26 anos, o deputado mais novo do partido de Albert Rivera no Parlamento espanhol, e também um dos mais mediáticos.
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Como se preparam umas eleições tão especiais como as de dia 26?

Para nós são uma oportunidade, os cidadãos puderam ver como é a ação política de todos os partidos. Não pensamos que a 20 de dezembro se tenham enganado, os espanhóis pediram consenso, acordos, diálogo. E isso é exatamente o que o Ciudadanos fez nos últimos meses. Mas o nosso número de deputados não era suficiente para conseguir esses acordos.

Esperam agora mais votos?

Agora queremos mais porque se o Ciudadanos tivesse tido 70 deputados Espanha teria hoje um governo. Vamos tentar crescer, consolidar o espaço de centralidade no país.

Estão em melhor posição do que há seis meses?

Penso que sim, porque contamos com o aval do trabalho bem feito. Demonstrámos que o Ciudadanos é o único partido que tratou de criar consenso.

O Ciudadanos vai ser a chave do próximo governo de Espanha?

Vai ser a garantia de não haver umas terceiras eleições em Espanha. As pessoas vão ter de escolher entre um governo com o Podemos e um governo com o Ciudadanos.

Albert Rivera foi o líder mais sério nas tentativas de acordos?

Acredito que os espanhóis puderam ver que votar em Albert é votar numa pessoa séria, honesta, que dialoga com aqueles que pensam de forma diferente da dele, que é difícil de encontrar. Ele é a garantia de chegar aos acordos enquanto alguns não conseguem dar as mãos. Albert Rivera é o líder do consenso.

Estes seis meses causaram muito dano à democracia espanhola?

Temos de ver o lado positivo e valorizar a primeira tentativa de formar governo. Oxalá fosse mais habitual a existência de distintas posições políticas. Foi uma novidade e temos de reparar que partidos nacionais estiveram sentados à mesa para falar dos pontos em comum, e é algo bom. Partíamos de um cenário difícil, com o Partido Popular a dizer que não a tudo e com o Podemos a tentar controlar tudo. Mas depois de seis meses ficou aberta uma nova porta para futuros acordos políticos.

E os espanhóis? Há muitas mais pessoas dececionadas com a política.

Os cidadãos são inteligentes e vão ver e valorizar os que trabalharam nestes meses. Temos uma mesa do Congresso mais plural. Espanha merece uma mudança para melhor e os espanhóis querem isso.

Temem que eleitores do Ciudadanos retirem a sua confiança por ter chegado a acordo com o PSOE?

Os eleitores do Ciudadanos votaram no acordo e no diálogo. Ficámos sentados a falar com o PSOE porque o rei designou Pedro Sánchez para formar governo. Se tivesse sido com Rajoy, o Ciudadanos também estaria lá. O senhor Rajoy falou durante meses de uma grande coligação mas depois nem sequer tentou formar governo. E temos de reconhecer que quem forma governo é aquele que consegue seduzir o maior número de deputados. Porque estamos num sistema parlamentar e funciona assim. Rajoy não teve capacidade de diálogo.

As sondagens indicam que de novo vão ser precisos acordos para poder formar governo. Esperam muitas mudanças nos resultados?

Algumas sondagens indicam que podemos subir um pouco e outras que podemos baixar. Não acredito que mude o mapa político, também não vamos ter desta vez maiorias absolutas. Será necessário que os partidos nacionais que pensam de forma diferente fiquem sentados a falar.

O acordo IU-Podemos pode alterar muito os resultados da esquerda?

Começo por dizer que qualquer acordo é legítimo e no caso destes dois partidos já se conheciam muitas semelhanças. O que acontece agora é que o cenário político ficou com posições mais extremas. Por um lado, temos o imobilismo de Rajoy e no outro extremo aparece o Podemos com o antigo partido comunista. É legítimo mas não pode pretender vender que é um partido novo.

Um acordo forçado pode ter como resultado um governo que não chegue ao fim?

O importante não é salvar a tomada de posse mas sim encontrar um projeto de governo para Espanha. Por isso, primeiro devemos falar de projetos e de reformas e uma vez que cheguemos a um acordo será o momento de procurar a soma aritmética para o governo. Antes, temos de falar de ideias. Se pensas que a tua cadeira é mais importante do que Espanha vais por mau caminho.

Apresentaram agora um programa muito diferente?

Tivemos de fazer ajustes porque a União Europeia chamou Espanha e disse que há um buraco de dez mil milhões de euros. Aumentaram o Orçamento e desviaram-se um ponto no objetivo do défice. Como resultado, temos um cenário económico pior. O Ciudadanos apresenta um relatório económico sério, não queremos vender fumo. O PP quer baixar os impostos quando não é possível e o Podemos pretende disparar a despesa pública. O programa já era sério e agora está ainda mais enriquecido depois das nossas reuniões com a sociedade civil, trabalhadores independentes, etc. Não se pode pretender subir os impostos à classe média e trabalhadora em Espanha e ao mesmo tempo piorar os serviços públicos. É fundamental reestruturar o mercado laboral. Em Espanha sete milhões de pessoas com trabalho estão em situação de pobreza. Apostamos no contrato único e estável e em investir na educação porque é a única forma de crescer. Está tudo unido.

É o deputado mais novo do Ciudadanos no Parlamento. O que traz a juventude ao projeto do partido?

Sim, tenho 26 anos e é uma honra fazer parte do Parlamento. Mas devo dizer que o sangue novo do partido não somos só nós os jovens e sim todos aqueles, independentemente da idade, que pela primeira vez deram o passo para a política. Todos nós damos frescura ao projeto e trazemos muita ilusão.

Um Parlamento tão variado é sinónimo de uma melhoria na democracia?

Vimos que se podem fazer muitas coisas e participar neste Parlamento é um orgulho. Há diversidade, pluralidade e chegar a acordo é bom sempre que todos nós saibamos estar à altura. Mas alguns confundiram a tribuna com um comício. Mas a verdade é que um Parlamento assim pode fazer as coisas de forma distinta e próxima.

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*) Madrid

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