Cirurgias menos agressivas e doentes acompanhados em casa. Assim será o novo Centro do Coração
30 mil doentes em consulta, 40 mil exames e duas mil intervenções. É esta a capacidade de resposta anual do Heart Center (Centro do Coração, em português) do Hospital Cruz Vermelha (HCV), em Lisboa, que é inaugurado esta sexta-feira. Com uma equipa composta por cerca de 60 profissionais, este pretende ser um espaço inovador na prevenção, tratamento e reabilitação de doenças cardiovasculares.
Teresa Magalhães, presidente da comissão executiva do HCV, considera que o Centro do Coração vai "dar resposta às necessidades atuais de uma área que tem sido um bocadinho posta em segundo plano em Portugal". Embora as doenças cardiovasculares sejam a maior causa de morte no país, "não se dá tanta importância à morte súbita ou à insuficiência cardíaca como ao cancro". Aproveitando o conhecimento "acumulado ao longo de décadas", o hospital procura, assim, "dar uma atenção especial a esta área".
O Centro do Coração representa um "investimento de 10 milhões a dez anos" e tem "todas as condições para responder a qualquer área das doenças cardíacas", da infância à terceira idade.
O coordenador do Heart Center, Luís Baquero, diz que o objetivo principal "é tentar agredir pouco os doentes para chegar o mais longe possível no tratamento". Isso é conseguido, por exemplo, através da conjugação da cardiologia de intervenção com as cirurgias cardíacas minimamente invasivas, numa sala híbrida, o que faz com que se "consiga agredir menos os doentes, com tratamentos mais efetivos e uma recuperação mais rápida".
Segundo o responsável, cerca de 80 a 85% dos procedimentos são feitos com abordagens minimamente invasivas, ou seja, com incisões inferiores a 6-7 centímetros, o que permite reduzir infeções e complicações.
Entre os dispositivos médicos "de última geração", Luís Baquero destaca um equipamento de ressonância magnética cardíaca, "único na Península Ibérica", que permite "fazer exames em menos tempo e em pacientes com pacemaker", o que até agora não era possível. No Centro, será possível realizar "todo o tipo de exames de diagnóstico", desde ecocardiogramas com provas de esforço às ressonâncias magnéticas, passando pelas provas respiratórias e exames de Tilt (usados para determinar as causas dos desmaios).
Num único ecrã, conta, é possível juntar todas as imagens: "Conseguimos fazer a fusão de ressonâncias, ecos e fluoroscopias, o que nos permite ser mais efetivos".
Uma das áreas que torna o centro diferenciador é, segundo os responsáveis, o acompanhamento dos doentes em casa. Teresa Magalhães explica que a telessaúde pode ser útil após as intervenções cirúrgicas, na avaliação de parâmetros como a pressão arterial, o peso ou as arritmias ou no seguimento de doenças crónicas, nomeadamente da insuficiência cardíaca. Desta forma, acrescenta Luís Baquero, o doente passa a ser uma parte ativa do tratamento, o que ajuda a antecipar eventuais agudizações.
O hospital privado, que tem uma participação de 45% do Estado, poderá "receber qualquer tipo de doentes", tendo acordos com subsistemas de saúde, como a ADSE, e seguros privados.
Francisco George, presidente da Cruz Vermelha, admitiu anteriormente que o objetivo final passa por "criar um acesso sem barreiras", não descartando a concretização de protocolos a estabelecer com o Serviço Nacional de Saúde, através das administrações regionais de saúde. Se os protocolos se vierem a estabelecer, o Centro do Coração poderá vir a ajudar a reduzir as listas de espera no setor público. "Estamos a trabalhar para isso", adiantou ao DN Teresa Magalhães.
A inauguração do espaço conta com a presença de Francisco George, presidente nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, Ana Santos Pinto, secretária de Estado da Defesa Nacional, e Marta Temido, Ministra da Saúde.
Para assinalar o dia, a população é convidada a realizar rastreios gratuitos cardiovasculares no novo centro, no piso 3 do HCV, em Sete Rios, Lisboa.