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Isolada num canto da Toyota Box, Sofia Froes, 29 anos, faz alguns exercícios de aquecimento, preparando-se não sabe muito bem para quê. Sabe que ali se está a trabalhar um musical com canções dos Xutos e Pontapés que se irá chamar Sexta-feira 13, sabe que a encenação é de António Feio e que, nas audições, lhe vão pedir para cantar, dançar e representar. "É um desafio enorme. Adoro musicais, desde pequena que vejo cassetes de vídeo com o Cats e o West Side Story", conta a actriz.

Estavam previstos dois dias de audições mas afinal, perante a avalanche de respostas recebidas pela produtora UAU, a equipa de Sexta-feira, 13 vai demorar uma semana inteira para avaliar os mais de 200 candidatos. Os primeiros chegaram ontem de manhã às Docas de Alcântara trazendo na mão o texto de uma das cenas e ensaiando em voz alta o diálogo entre um toxicodependente e a sua mulher desesperada. Mas antes da cena dramática, os actores têm de aprender em apenas meia hora uma pequena coreografia para Circo de Feras e, depois, darão provas vocais cantando dois temas fortes dos Xutos, À Minha Maneira e Circo de Feras. Só os que passarem esta fase serão chamados para a prova de representação. "Procuramos actores que cantem e dancem muito bem", justifica António Feio, garantindo que ainda não tem nenhuma estrela convidada para o musical e que os 15 actores (9 homens e seis mulheres) irão todos ser escolhidos através deste casting.

Com estreia marcada para Março (após dois meses de ensaios), Sexta-feira 13 apresenta-se como um musical genuinamente português, que não segue o modelo de Fantasma da Ópera, inspirando-se antes em êxitos recentes como Mamma Mia (com música dos Abba), We Will Rock You (Queen) ou Tonight's the Night (Rod Stewart). Eduardo Madeira, humorista das Produções Fictícias que é também um dos Cebola-Mol, foi o autor desafiado a escrever o guião, ainda em fase de trabalho. Renato Jr. é o director musical, Eric Costa assina a cenografia, Sónia Aragão e Carla Ribeiro são responsáveis pela coreografia, Susana Félix faz a coordenação artística e Carlos Coincas a direcção vocal.

Apesar de o musical não contar a história dos Xutos, eles são co-produtores do espectáculo e principal fonte de inspiração. "A ideia principal é fazer uma homenagem aos Xutos e Pontapés", reconhece o director musical. Isso é visível, por exemplo, no título - o primeiro concerto dos Xutos foi numa sexta-feira, 13. "A história acaba por ser um pretexto para as músicas dos Xutos", acrescenta António Feio. Haverá um paralelo entre a história e as letras, que assumem uma função narrativa. "Basicamente", explica o encenador, será a história de um grupo de pessoas com a idade dos elementos dos Xutos, que viveram o 25 de Abril ("durante um tempo andou tudo amarfanhado e de repente pôde-se levantar voo" ) e que sobreviveram ("os que sobreviveram") ao sexo, drogas e rock'n roll dos anos 80. "Vamos encontrá-los na actualidade, pais de família, e depois recuamos até aos anos 80 para descobrir as suas histórias da fase de crescimento e de amadurecimento" . Recorre-se a um imaginário relacionado com a música e em certos momentos nitidamente inspirado na vida de Zé Pedro, Tim, Kalu, João Cabeleira e Gui. "Queremos passar a ideia de companheirismo e de longevidade, de que a vida não é fácil, 'a vida vai torta' mas mesmo assim há uma luz ao fundo do túnel, vale a pena continuar. E os Xutos são um exemplo, eles resistem a eles próprios, a todas as contrariedades e a todas as loucuras", sublinha António Feio.

No palco vão ouvir-se 15 ou 16 temas do grupo, uns mais conhecidos, outros menos - e ainda não está excluída a hipótese de o grupo dar mesmo a sua voz, por exemplo, ao tema-base da peça, Sexta-feira 13, o único inédito. "Este é um espectáculo de rock", explica Renato Jr., garantindo que os cinco músicos que vão tocar ao vivo todas as noites irão usar guitarras, bateria e baixo. "Podemos ou não alterar as músicas, mas se o fizermos tem que valer a pena", diz. Contando já com esse ambiente de concerto e com um público que sabe as letras de cor, na Toyota Box haverá lugares na plateia e lugares em pé. Como num concerto a sério.

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