Se não bastarem os resultados dos portugueses, veja-se o caso recente dos dois maiores bancos da Alemanha, a maior economia do euro. Nos últimos dias, o Deutsche Bank e o Commerzbank anunciaram, cada um, uma queda dos lucros referentes aos primeiros três meses do ano de aproximadamente 60%. Este trimestre não é um exercício inédito, apenas serve para confirmar a nova máxima do setor bancário, a de que, depois da crise do crédito, "nunca mais nada será como antes". E os exemplos de deterioração dos resultados sucedem-se na Europa..Ontem, o presidente executivo do BPI, banco que enfrenta uma reestruturação na sua estrutura acionista, apontou cinco razões para os problemas do setor. A primeira causa apontada por Fernando Ulrich foi a redução das taxas de juro na zona euro. O Banco Central Europeu mantém as suas taxas de referência em mínimos históricos e ainda nesta semana Mario Draghi, o presidente do BCE, garante não existir alternativa a esta política. A segunda razão referida pelo banqueiro foi a desalavancagem das economias, que conduziram a uma redução significativa das carteiras de crédito (de negócio) dos bancos. Em terceiro lugar, a redução das remunerações oferecidas pelos títulos de dívida pública, com o caso extremo da Alemanha, que oferece, neste momento, taxas negativas. Estes títulos são, conforme sublinha o banqueiro português, uma importante fonte de rendimento dos bancos. Por último, Ulrich identifica mais duas explicações para a crise da banca: uma "regulação mais exigente e mais cara", bem como a inovação tecnológica que traz nova concorrência aos bancos. A propósito da inovação tecnológica, que pressiona, e de que maneira, a banca, sempre habituada a estar na dianteira, as estimativas apontam para o desaparecimento de milhões de postos de trabalho em pouco tempo..Um diagnóstico praticamente irrepreensível. Ulrich tem razão - todos estes cinco pontos têm impacto nas contas dos bancos, penalizando os seus resultados -, mas Ulrich atribui a fatores exógenos aos bancos a responsabilidade por praticamente tudo o que de mais difícil se passa nos bancos. E não foi, não é sempre assim. Os tempos foram e são de enorme mudança para o setor e nem sempre é fácil a adaptação a uma nova realidade. O papel dos gestores é reinventar o modelo de negócio, adaptá-lo a uma nova realidade, antecipar e reagir. Isto é verdade também na banca, também para os banqueiros. E nem todos os bancos reagiram, ou estão, sequer, a reagir atempadamente e adequadamente ao que está aí. Por exemplo, ainda existem investidores que não fazem a menor ideia do que é ser acionista de um banco. Isto em Portugal e na Europa. Como diz Ulrich, as dificuldades não são um exclusivo português ou ibérico, são um fenómeno europeu.