Cinco militares com doença grave só foram excluídos depois das mortes no curso de Comandos
Cinco elementos do 127.º curso de Comandos, que terminou na passada sexta-feira, foram excluídos devido a doenças graves, que terão sido diagnosticadas ainda antes de o curso começar. No entanto, segundo avança a rádio Renascença, a exclusão dos candidatos só aconteceu depois das mortes de Hugo Abreu e Dylan Silva.
No total, segundo a Renascença, 16 militares terão sido excluídos do curso de Comandos por problemas de saúde, mas cinco tinham patologias graves: um sofria de síndrome de Gilbert, uma doença hepática crónica, de origem genética, outro tinha uma doença cardíaca, também genética, e antecedentes de epilepsia. Um terceiro instruendo tinha duas hérnias discais, um quarto uma "dismetria dos membros inferiores" e um quinto militar teria mesmo um tumor ósseo na bacia que, de acordo com um documento a que a Renascença teve acesso, estava patente "à vista desarmada".
[artigo:5517215]
Confrontado pela Renascença, que procurou averiguar se as doenças tinham sido detetadas antes do início do curso, o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, respondeu que os militares que se candidatam ao curso de Comandos têm "níveis de ambição elevados e com alguma frequência escondem manifestações de doença para não serem excluídos", admitindo que muitas doenças sejam detetáveis apenas através de exames específicos. Mas garantiu, no entanto, que todos os candidatos são sujeitos a uma bateria de exames e que o Exército está a analisar mudanças no método de triagem dos candidatos.
Ainda esta segunda-feira, a Renascença conseguiu acesso à ficha clínica do militar que sofria de um tumor ósseo, constatando que o Hospital das Forças Armadas tinha diagnosticado o problema e que o candidato tinha sido indicado para remoção do tumor a 21 de julho, antes do início do curso de Comandos, em setembro.
Em dados enviados ao DN, o Exército informou que o 127.º curso de Comandos, que se iniciou a 4 de setembro no Campo de Tiro de Alcochete, registou 42 desistências, 27 das quais a pedido dos instruendos, 11 por indicação médica e quatro por falta de aptidão técnica. O curso esteve suspenso durante uma semana, devido às mortes de Hugo Abreu e Dylan Silva. Hugo Abreu morreu no primeiro dia do curso, com temperaturas superiores a 40 graus centígrados - e ainda mais ao nível do solo. Dylan Silva, transferido no mesmo dia para o hospital do Barreiro, viria a morrer uma semana depois devido a falência hepática. Vários instruendos foram ainda internados devido a um "golpe de calor".