Cimeira tripartida decide destino da Síria
Os líderes das principais forças estrangeiras presentes na Síria reúnem-se hoje em Ancara para discutir o futuro da guerra iniciada há sete anos entre o regime de Bashar al-Assad e vários grupos rebeldes e jihadistas. Sem a presença de qualquer dirigente sírio (muito menos curdo), os presidentes da Turquia, Rússia e Irão vão tentar encontrar um denominador comum para defenderem os respectivos interesses.
Entre outros assuntos, Recep Tayyip Erdogan, Vladimir Putin e Hassan Rouhani vão conversar sobre a criação de um comité que vai desenhar uma nova constituição para a Síria e em aumentar o número de "zonas seguras" em todo o país.
A cimeira sobre a Síria reúne as duas potências que têm sido os apoiantes do presidente Bashar al-Assad, o Irão e a Rússia, com um dos seus mais fortes opositores, a Turquia.
A cooperação entre os campos rivais aumentou as esperanças de estabilizar a Síria após sete anos de conflito, nos quais 350 mil a 500 mil pessoas (consoante as fontes) foram mortas e metade da população obrigada a deslocar-se.
No entanto, e apesar dos ganhos no terreno do exército de Damasco, não há sinais de que a guerra esteja perto do fim.
O exército da Síria e as milícias apoiadas pelo Irão, com o apoio do poder aéreo russo, levaram à derrota dos grupos rebeldes perto de Damasco, no leste de Ghouta.
A Turquia de Erdogan, que se tornou num inimigo de Assad no início da guerra, começou por patrocinar milícias contra o regime e, mais recentemente, iniciou a sua própria operação militar para expulsar a presença curda da região de Afrin, no noroeste da Síria. E prometeu avançar mais para leste, o que levou Teerão a reagir.
Em janeiro de 2017, os representantes dos três países, reunidos no Cazaquistão, fundaram o chamado Processo de Astana. Os líderes reuniram-se em novembro em Sochi, tendo na altura declarado o apoio à integridade territorial da Síria.
Ancara e Moscovo, de quase inimigos a aliados
A cimeira tripartida de Ancara foi precedida de um encontro entre Putin e Erdogan, na terça-feira. Os chefes de Estado russo e turco falaram sobre o aprofundamento das relações comerciais e militares. Para Putin, a entrega antecipada de mísseis de defesa aérea S-400, "é uma prioridade".
Os líderes presidiram por teleconferência à cerimónia do lançamento da primeira pedra da central nuclear de Akkuyu (Sul da Turquia). O projeto, da empresa russa Rosatom, está avaliado em 20 mil milhões de dólares e, uma vez concluído, fornecerá 10% da procura energética turca.
As relações entre os dois países estão num patamar que se julgaria impossível há um par de anos. O avião de combate russo abatido em novembro de 2015 pelo exército turco levou à imposição de sanções económicas à Turquia. O assassínio do embaixador russo em Ancara, em dezembro de 2016, por um polícia turco, também não ajudou à normalização.