Cidade com mais árvores pode ser refúgio para aves
Estorninhos, chapins e periquitos-de-colar são algumas das muitas espécies que vão beneficiar dos projetos que preveem tornar a capital mais verde. Além das oito mil árvores projetadas para a 2.ª Circular, vão ser plantadas mais de 28 mil até ao final do ano, o número de bebés que nasceu em Lisboa entre 2010 e 2014. Isto significa que vão ser criados mais de 36 mil novos habitats para aves, o que, segundo os especialistas contactados pelo DN, levará a um aumento do número de pássaros na cidade.
Com a plantação de milhares de árvores aumentam as possibilidades de nidificação e refúgio para as aves. "É pouco provável que surjam novas espécies, mas pode acontecer. No entanto, haverá um aumento das populações que já habitam os parques e jardins de Lisboa", disse ao DN Domingos Leitão, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Segundo o coordenador do departamento de conservação terrestre da SPEA, "é natural que possam aumentar as populações de chapins ou de espécies exóticas como o periquito-de-colar, que facilmente se observa no Jardim da Estrela e no Botânico". À medida que surgem mais corredores verdes, as aves "têm a possibilidade de dispersar mais para outras zonas", o que "é benéfico."
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Na zona envolvente da 2.ª Circular está prevista a plantação de 7500 exemplares e 580 no separador central, 70% dos quais serão lódãos-bastardos. Até 2017 serão também plantadas mais 28 167 árvores e mais de 30 mil arbustos em vários espaços de Lisboa, nomeadamente no corredor verde oriental, no Parque Florestal de Monsanto, no vale da Ameixoeira.
Para João Branco, presidente da associação ambientalista Quercus, a plantação de árvores terá um impacto "muito positivo" na cidade a nível da qualidade do ar, da criação de sombras e do aumento da biodiversidade. "No que diz respeito às aves, poderá aparecer uma ou outra espécie, mas no geral ficam as que existem mas em maior quantidade", diz, realçando que "os ecossistemas urbanos ganham sempre com a plantação de árvores".
As espécies preferidas são o carvalho e o pinheiro-manso, mas a lista inclui também abrunheiros, loureiros, choupos e ciprestes. Relativamente às duas primeiras, João Branco diz que "são ótimas escolhas", mas é preciso assegurar "que o carvalho é nacional", pois o americano não trará grandes benefícios.
O facto de ocorrerem mais espécimes na cidade vai permitir que os cidadãos fiquem mais atentos às questões relacionadas com a biodiversidade urbana e a sua preservação. É esta a convicção de Nuno Sequeira, vogal da direção da associação ambientalista Quercus. No entanto, diz que o trabalho de reflorestação deve ser acompanhado de uma intervenção a nível da sensibilização: "É bom que as autarquias mostrem às pessoas o que existe, para que se interessem pela biodiversidade." Além disso, adianta que é preciso ter em atenção que algumas árvores são de crescimento lento: "Devemos dar-lhes tempo."
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Ambiente "mais orgânico"
Do ponto de vista paisagista, Nuno Mota destaca que com a existência de mais árvores "há um transporte para um ambiente menos duro, mais orgânico e mais próximo daquilo que é a paisagem natural". Embora reconheça que "há paisagens urbanas sem árvores lindíssimas", o arquiteto paisagista lembra que "as árvores são uma forma de trazer o campo à cidade".
O valor das árvores na cidade tem que ver também com a capacidade de "reter uma parte significativa dos elementos em suspensão, que podem causar alergias." Nuno Mota reforça que "é importante que as cidades tenham um pulmão verde para a produção de oxigénio e consumo de dióxido de carbono".
Além da importância a nível da poluição, ajudam a temperar o clima. "Baixam a temperatura no verão, o que torna as áreas adjacentes mais frescas", afirma o arquiteto paisagista.