Ciclo imortal de Schubert revisto por Prégardien
O grande tenor lírico alemão Christoph Prégardien atua hoje ao fim da tarde (19.30) na Sala Suggia da Casa da Música (Porto), num concerto inteiramente preenchido com a releitura de Hans Zender (n. 1936) da Viagem de Inverno, de Franz Schubert.
Prégardien tem uma carreira de mais de três décadas ao mais alto nível, mormente no domínio da canção de câmara (o Lied em língua alemã, para voz e piano) e da oratória. É reconhecido como um dos máximos intérpretes dos Lieder de Schubert, mas também aborda as composições nesse género de Robert Schumann ou de Hugo Wolf. Interessante outrossim o facto de praticar este repertório, seja acompanhado por piano moderno, seja fazendo-o por um piano histórico (pianoforte), trabalhando quase exclusivamente com dois pianistas-acompanhadores: Michael Gees (piano) e Andreas Staier (pianoforte).
Aqui, a interpretação da canção n.º 14 do ciclo de Schubert "revisto" por Hans Zender: 'Der greise Kopf' ('A cabeça grisalha'). Christoph Prégardien é acompanhado do ensemble holandês INSOMNIO, dirigido por Ulrich Pöhl
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Ou aqui, na última canção do ciclo: Der Leiermann (O tocador de realejo), agora com o Klangforum de Viena e o maestro Sylvain Cambreling:
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No domínio da oratória, impôs-se com igual propriedade em repertório desde o Barroco até ao século XX (Britten, Rihm, Stravinsky), mas talvez em nenhum outro se tenha notabilizado tanto como no papel de Evangelista nas duas Paixões deixadas por Johann Sebastian Bach, segundo São Mateus e segundo São João. O Evangelista é o papel meridiano em ambas as obras, decisivo para o respetivo impacto emocional, e Prégardien tornou-se sem dúvida uma das referências mundiais absolutas quando se trata de escolher um Evangelista para uma programada Paixão de Bach. A sua ligação a essas obras é ilustrada ainda pelo facto de as ter escolhido, à de João em 2012 e à de Mateus no ano passado, para as suas estreias como maestro!
Prégardien é senhor de uma multi-premiada discografia que já ultrapassa os 130 registos. Num deles, editado em 2014, apresenta-se em conjunto com o seu filho Julian, tenor como ele.
A obra em que hoje é solista chama-se, por extenso, A "Winterreise" de Schubert: uma interpretação composta para tenor e pequena orquestra. É a reelaboração/releitura do ciclo de 24 canções Viagem de Inverno (1827) - talvez o cume máximo de toda a literatura para canto e piano, sobre poemas de Wilhelm Müller - pelo maestro e compositor alemão Hans Zender. Esta versão estreou a 21 de setembro de 1993, em Frankfurt, e foi dedicada ao Ensemble Modern, um dos melhores grupos de música erudita contemporânea. A primeira gravação apareceu em 1995, seguindo-se em 1999 um segundo registo, por Prégardien, com o Klangforum de Viena e direção de Sylvain Cambreling (na Kairos).
Na Casa da Música, esta performance da obra terá direção cénica de Nuno Carinhas e desenho de luz de Nuno Meira. O Remix Ensemble será dirigido pelo seu titular, o alemão Peter Rundel.